XEQUE-MATE ECONOMIA / POR ESTÉFANO BARIONI

Safra de Soja

Estéfano Barioni
17/08/2022 às 11:53.
Atualizado em 17/08/2022 às 11:53
Safra de Soja (Wanderson Araújo/ Trilux)

Safra de Soja (Wanderson Araújo/ Trilux)

Após um período de estiagem intensa que atingiu os estados da região Sul e também o Mato Grosso do Sul no ano passado, a produção de soja desse ano teve a pior quebra de safra registrada na história do cultivo deste grão. A redução na produção foi causada pelo fenômeno climático La Niña e atingiu também a safra de soja da Argentina e do Paraguai, atingindo o mercado internacional. 

Estiagem

A colheita da soja ocorre majoritariamente no primeiro trimestre do ano e normalmente se encerra em junho. A estiagem sofrida no ano passado devido às condições climáticas adversas prejudicou o desenvolvimento da lavoura e fez a produtividade despencar. Na Argentina, os efeitos sobre a produção agrícola foram extremamente negativos, mas também no Brasil as perdas foram significativas. 

FRASE

“Países desenvolvidos usam até 4% do PIB em ciência e tecnologia, o Brasil usa em torno de 1%."

Alexandre Nepomuceno, chefe-geral Embrapa Soja

Números

Para se ter uma ideia da extensão das perdas, basta avaliar alguns números. A área cultivada com soja no Brasil na safra atual (2021/2022) foi 4,5% maior do que a área cultivada na safra passada, somando quase 41 milhões de hectares. Mas mesmo com uma área maior dedicada à cultura, a produção de soja na safra atual ficou 10,2% abaixo da produção obtida na safra passada. Os dados são da Conab. 

Produtividade

Com isso, a produtividade da lavoura de soja caiu 14,1%. Na safra passada foram obtidos 3.525 kg de soja por hectare plantado. Na safra atual a produtividade foi de apenas 3.029 kg/hectare. Mas os estados mais afetados pela estiagem tiveram quedas de produtividade muito maiores. O Rio Grande do Sul, por exemplo, teve queda de 58,3% na produtividade da soja neste ano. 

Produtividade 2

O Paraná teve queda de 38,9% na produtividade, o Mato Grosso do Sul teve queda de 30,8% e Santa Catarina registrou queda de 17,5%. As quedas na produtividade são importantes porque refletem a diferença entre a produção obtida e a produção esperada. A expectativa já considerava um aumento na produção devido ao maior uso de área plantada, esperando-se que a produtividade se mantivesse igual ou até aumentasse. 

Produção

Devido à expansão na área cultivada, se a produtividade da safra passada se repetisse neste ano para a safra 2021/2022, o Brasil alcançaria uma produção total de 144,2 milhões de toneladas de soja. No entanto, a produção real foi de 124 milhões de toneladas, valor um pouco abaixo do obtido na Safra 2019/2020. São 20,2 milhões de toneladas a menos do que a expectativa. 

Compensação

A situação só não é pior porque outros estados importantes na produção conseguiram ganhos na produtividade. O Mato Grosso, responsável por quase um terço de toda a produção nacional de soja, registrou um ganho de produtividade de 7%. O estado de Goiás, responsável por 12,5% da safra nacional, também teve ganhos de produtividade entre 7 e 8%. 

Preços

O Brasil é o maior produtor de soja do mundo. Com a quebra na safra, os preços da soja chegaram a subir cerca de 36% no mercado internacional, quando se percebeu que a expectativa da produção seria frustrada. Os preços recuaram apenas nas últimas semanas com a expectativa de menor consumo da China. Mesmo assim, os preços estão em um nível 12% maior do que no ano passado. 

Ganhos

Apesar da alta nos preços, o grande beneficiado foram os Estados Unidos que são o segundo maior produtor mundial. A Argentina aparece em terceiro lugar, produzindo um terço do volume brasileiro. Com a safra prejudica no Brasil e na Argentina, os Estados Unidos conquistaram espaço e puderam lucrar com os preços altos. 

La Niña

Para a próxima safra (2022/2023), o fenômeno La Niña continua atuando e só deve perder força em outubro de 2023. Pela terceira safra seguida, deve novamente causar chuvas abaixo da média na região sul do Brasil. Esse é um aviso para todo o setor agrícola brasileiro, que deve aumentar o investimento em pesquisa e tecnologia, pois os eventos climáticos adversos devem se tornar cada vez mais frequentes.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por