A guerra na Ucrânia prossegue, mesmo chamando cada vez menos atenção nos noticiários (France Press)
A guerra na Ucrânia prossegue, mesmo chamando cada vez menos atenção nos noticiários. As sanções econômicas "sem precedentes" que foram impostas na tentativa de asfixiar a Rússia financeiramente, obrigando um recuo da ofensiva, acabaram se mostrando bem menos poderosas do que se esperava. Existem evidências de que a economia russa não está indo tão mal assim.
Rublo
Logo após o início da guerra, quando as sanções econômicas foram impostas, incluindo a desconexão dos principais bancos russos do sistema de transferências internacionais Swift e o congelamento de ativos russos no exterior, o Rublo sofreu uma grande desvalorização de 48% frente ao dólar, quase imediatamente.
FRASE
"O problema é incluir energia nas sanções, porque as sanções devem ter um impacto maior na Rússia do que nos países que as impõem."
Petr Fiala, primeiro-ministro tcheco
Taxa de Juros
Algumas empresas internacionais começaram a encerrar suas operações na Rússia. Para evitar uma maior fuga de capitais e uma desvalorização ainda mais profunda de sua moeda, o banco central russo adotou uma brusca elevação da taxa de juros. De um dia para o outro, a taxa de juros passou de 9,5% ao ano para 20% ao ano, de modo a manter a atratividade dos investimentos no país.
Valorização
Além disso, o país adotou um rigoroso controle de capitais. A combinação desse controle com taxas de juros elevadas ajudou a segurar o valor do Rublo, que não só recuperou totalmente a desvalorização sofrida, como atualmente já está com uma valorização de 25% sobre o dólar em relação aos níveis antes da guerra.
Valorização 2
É claro que a economia russa está muito mais fechada hoje do que era antes da guerra, e o valor de uma moeda em uma economia fechada é sempre questionável, mas o fato não deixa de ser surpreendente. Assim, a Rússia baixou as taxas de juros, voltando ao nível de 9,5% ao ano. Mesmo nível do período pré-invasão e menor do que os juros atuais no Brasil, que estão em 13,25% ao ano.
Inflação
Os preços gerais na Rússia aumentaram, é claro, especialmente devido ao menor comércio com o exterior e ao encerramento de operações econômicas que tiveram que ser substituídas. Mas esse aumento é estimado em cerca de 10% desde o início do ano. Nada de muito grave se comparado com a inflação no Brasil (11,89% ao ano) e nos Estados Unidos (que alcançou 9,1% ao ano, a maior dos últimos 41 anos).
Contração
O PIB da Rússia também deve diminuir esse ano, mas nada parecido com as projeções iniciais de logo após a entrada em vigor das primeiras sanções econômicas. Além das manobras com a taxa de juros, outro fator tem garantido a geração de resultados econômicos positivos para a Rússia e a valorização do Rublo: as exportações de petróleo.
Petróleo
A Rússia é o segundo maior exportador de petróleo do mundo. As sanções econômicas que impediram a importação de produtos russos não se aplicaram ao petróleo devido à grande dependência da Europa. Petróleo e gás são os principais produtos russos de exportação e a maioria do consumo é feito pela Europa. No começo do ano, pouco mais de 30% de todo o petróleo consumido na Europa era fornecido pela Rússia.
Petróleo 2
Um grande esforço de substituição foi realizado, mas só conseguiu fazer essa proporção baixar para 22%. Foram colocadas algumas barreiras parciais, por meio da suspensão de seguros e dificuldades para o transporte do produto russo, o que obrigou os russos a negociar o petróleo abaixo do preço de mercado. Mas com o preço do barril acima de US$ 100, vender petróleo, mesmo com desconto, é um excelente negócio.
Petróleo 3
Este ano, as receitas geradas pela venda do petróleo da Rússia aumentaram cerca de 80% em comparação com o ano passado. E isso tem feito toda a diferença para sustentar a economia russa. Agora a Europa planeja realizar um banimento total ao petróleo russo, entrando em vigor no ano que vem, e isso pode mudar o panorama e mesmo afetar o mercado de petróleo como um todo. Mas até lá, a Rússia terá muito combustível para sua economia.