XEQUE-MATE DA ECONOMIA

Riqueza Global

Estéfano Barioni
28/11/2023 às 12:03.
Atualizado em 28/11/2023 às 12:03
Economia Mundial (Divulgação)

Economia Mundial (Divulgação)

Um estudo sobre a riqueza mundial mostrou os efeitos de alguns desequilíbrios pós-pandemia que atingiram as principais economias do mundo, especialmente no ano passado. Em 2022, pela primeira vez desde a crise global financeira de 2008, a riqueza das famílias teve uma diminuição nominal de valor. A riqueza total, que era de US$ 465,7 trilhões em 2021, caiu -2,4% em 2022, chegando a US$ 454,3 trilhões.

Análise

Os números absolutos são difíceis de digerir, especialmente números gigantescos como a soma da riqueza de todas as famílias do mundo, mas através de uma análise detalhada, é possível realizar algumas inferências sobre os dados coletados. O quadro da riqueza mundial pode fornecer informações importantes sobre o desempenho da economia e sobre a desigualdade no mundo. 

FRASE

"Enquanto a desigualdade e outros problemas sociais nos atormentarem, os populistas tentarão explorá-los

Kofi Annan, ex-secretário-geral da ONU

Patrimônio
Quando se fala em riqueza, estamos falando em patrimônio das famílias e não de renda. Ou seja, não se trata do quanto as pessoas ganham, mas sim dos valores que as pessoas possuem guardado, tanto em ativos líquidos (dinheiro, contas no banco, etc.) como em ativos menos líquidos (imóveis, participação em empresas de capital fechado, etc.). Foi o valor patrimonial total que teve variação de -2,4% em 2022. 

Dólar
Um dos motivos para a queda no valor da riqueza é cambial: muito dessa queda ocorreu por conta da valorização do Dólar contra as principais moedas. No ano passado, apesar de ter se desvalorizado em -6,5% contra o Real, o Dólar se valorizou em +6,2% contra o Euro e +8,58% contra o Yuan Chinês, por exemplo. Como a riqueza mundial é medida em Dólares, se o Dólar se valoriza de maneira geral, toda a riqueza que está em outras moedas acaba valendo menos. 

Dólar 2
Caso o valor do Dólar tivesse se mantido constante em relação às demais moedas do mundo, ao invés de uma queda nominal de -2,4%, a riqueza do mundo teria experimentado um crescimento nominal de +3,4%. A conclusão, bastante óbvia, é que grande parte da riqueza do mundo não está em Dólares, embora relativamente os Estados Unidos concentrem uma parte significativa. Com apenas 4,2% da população mundial, os EUA detêm 30,7% da riqueza de todo o mundo. 

Inflação
Outra observação importante é que, se descontarmos a inflação, o que seria um ganho nominal de +3,4% em riqueza se transforma em uma perda real de -2,6%. Ou seja, a inflação que fez os preços de bens e serviços dispararem no ano passado, corrói o poder de compra das famílias e faz com que o patrimônio acumulado tenha um valor real menor. Em 2022, a inflação atingiu os níveis máximos dos últimos 40 anos nos Estados Unidos e Europa. 

Riqueza Média
O mundo tem uma riqueza média igual a US$ 84,7 mil por adulto, o que é equivalente a R$ 415 mil. Se você possui R$ 415 mil de patrimônio está exatamente na média mundial (se você é casado ou casada, o patrimônio familiar deveria ser de R$ 830 mil para estar na média mundial). A realidade brasileira, por outro lado, é bem mais modesta e a riqueza média é de US$ 29,5 mil, o que equivale a um patrimônio de R$ 144,5 mil por adulto. 

Metades
A riqueza média é um parâmetro que pode ser enganoso, pois é influenciada pela imensa riqueza dos muito ricos. Outro parâmetro que fornece uma melhor medida da desigualdade é a mediana da riqueza. Ao invés de somar a riqueza total e dividir pelo número de adultos, a mediana divide a população de adultos em dois, a metade mais rica e a metade mais pobre. Exatamente no meio está a mediana, o valor da riqueza que divide os dois grupos. 

Desigualdade
No Brasil, a mediana da riqueza está bem longe da média e é de apenas US$ 5,7 mil, o equivalente a pouco menos de R$ 28 mil por adulto. Ou seja, se você tem um patrimônio superior a R$ 28 mil já está na metade da população que possui mais riqueza no Brasil. Por outro lado, o 1% mais rico no Brasil concentra 48,4% da riqueza do país. Essas são as medidas da nossa desigualdade.

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