XEQUE-MATE DA ECONOMIA

República

Estéfano Barioni
16/11/2023 às 08:56.
Atualizado em 16/11/2023 às 08:56
Brasil tornou-se uma República em 1889 (Reprodução)

Brasil tornou-se uma República em 1889 (Reprodução)

Em 15 de novembro 1889 o Brasil tornava-se uma República, dando fim ao Império que reinou o país independente por pouco mais de 67 anos. A Proclamação da República em 1889 foi um movimento organizado pelos militares, insatisfeitos com a monarquia, contando com o apoio da oligarquia rural do país, e foi um processo que teve vários efeitos na economia do Brasil, marcando uma transição para uma nova era política e social.

Café

No final do Império, a economia brasileira era essencialmente rural. A produção agrícola era basicamente a única fonte de riqueza do país. O ciclo do ouro havia há muito se esgotado e a riqueza nacional dependia da produção de café, o “ouro verde”. Quase toda a produção agrícola era destinada para exportação e as vendas de café, açúcar e borracha no mercado exterior eram responsáveis pela entrada de recursos no país.

FRASE

"Não é a terra que constitui a riqueza das nações, e ninguém se convence de que a educação não tem preço".

Rui Barbosa, primeiro Ministro da Fazenda da República 

Abolição

A abolição da escravidão no Brasil, embora tenha acontecido muito tardiamente, encontrou um sistema econômico despreparado para as novas demandas que surgiram. As vendas do café sustentavam o consumo interno e a formação de capital do país. Com a abolição, os fazendeiros agora demandavam recursos adicionais para o pagamento de salários e das hipotecas agrícolas, que antes tinham como garantia os próprios escravos.

“Salvação” da Lavoura

Para manter o apoio dos produtores de café, o Império realizou medidas para garantir recursos para o setor. O Tesouro fornecia dinheiro para os bancos, em empréstimos sem cobrar juros e com prazos de até 22 anos para pagamento. Os bancos, por sua vez, deveriam emprestar aos cafeicultores o dobro dos recursos recebidos, mas com prazos mais reduzidos e cobrando juros de 6% ao ano.

Bancos

A ideia do governo da época era fomentar um sistema bancário robusto, capaz de financiar as atividades agrícolas que eram responsáveis pela geração de riqueza. No entanto, o setor bancário se aproveitou dos privilégios oferecidos pelo dinheiro fácil do Tesouro e capturou todos os benefícios do spread entre recursos recebidos e empréstimos ofertados. Contrariada, a oligarquia agrária apoiou a queda do Império.

Expansão

Incertos sobre o novo regime, que viria a ser conhecido como Primeira República, muitos banqueiros fizeram emissões de ouro para o exterior. O novo governo então imaginou que seria necessária uma forte expansão monetária para atender às necessidades econômicas vigentes: aumento do trabalho assalariado com a chegada de imigrantes em grandes quantidades e fortalecimento do mercado consumidor interno.

Dinheiro-Crédito

Elaborou-se um plano econômico que expandia a política de empréstimos ao setor agrário, autorizando a utilização de títulos públicos como lastro para a emissão de dinheiro. Mas, para combater o privilégio dos bancos, outras instituições também foram credenciadas para emitir dinheiro. O resultado foi uma oferta de dinheiro muito maior do que o mercado interno demandava, gerando muito mais inflação do que riqueza.

Desequilíbrio

Além disso, nessa época ainda não havia o Banco Central ou qualquer autoridade monetária para supervisionar as operações, e o número de fraudes foi gigantesco, com inúmeras sociedades fictícias recebendo crédito sem qualquer tipo de lastro ou garantia real. Em menos de dois anos, o desequilíbrio monetário provocou a queda de Rui Barbosa, o primeiro ministro da fazenda republicano.

Crise de 29

O dinheiro fácil permitiu uma grande expansão atividade cafeicultora, mas levou a uma superprodução que derrubou o preço do café. Para proteger os produtores, o governo brasileiro começou a comprar os excedentes de café, mantendo os preços em patamares elevados. No entanto, a crise financeira de 1929 derrubou a demanda e liquidou o modelo de produção agrícola de monocultura para exportação, protegida às custas do estado. Era o fim da Primeira República.

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