Presidência da Petrobras

Quase uma semana após a indicação de Adriano Pires para a presidência da Petrobras, o cargo de CEO de uma das mais importantes empresas do Brasil volta a ficar vago. Alegando conflitos de interesse que o impossibilitariam de assumir o cargo, Adriano Pires abriu da indicação. As atenções voltam agora para o governo, que deve apontar um novo nome para o cargo. 

CBIE
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Adriano Pires é um economista de perfil liberal, especialista no setor de energia. Em 2000, fundou o CBIE, Centro Brasileiro de Infraestrutura, uma consultoria voltada para o setor de energia brasileiro, com foco em assuntos estratégicos e de regulação. Atualmente, Pires é sócio e diretor da empresa. O filho de Pires também é sócio da CBIE e atua na empresa ao lado do pai. 

FRASE

"Ficou claro para mim que não poderia conciliar meu trabalho de consultor com o exercício da Presidência da Petrobras".
Adriano Pires, diretor do CBIE

Conflito de Interesses

O conflito de interesses existe quando interesses particulares podem interferir nas escolhas de uma pessoa que ocupa um cargo de decisão. A empresa de Pires tem como clientes agentes do setor de energia, que potencialmente são concorrentes, clientes ou fornecedores da Petrobras. Nessa condição, esses agentes podem ser beneficiados ou prejudicados pelas decisões tomadas na Petrobras.

Desligamento

Assim que foi indicado para CEO da Petrobras, Pires iniciou os procedimentos para realizar o seu afastamento da CBIE, pois seria impossível manter sua posição na empresa e exercer a presidência da Petrobras. No entanto, acabou por se dar conta da impossibilidade de fazer o seu desligamento em tempo suficiente para assumir a nova posição. 

Lista de Clientes

Para a verificação de potenciais conflitos de interesse, Adriano Pires teria que entregar à Petrobras a lista de seus clientes, uma informação que a CBIE não divulga (estando em seu pleno direito, diga-se de passagem). Mesmo que a Petrobras não fosse obrigada a divulgar publicamente a lista dos clientes da CBIE, parece que essa exigência teve peso na decisão. 

Lista de Clientes 2

Em 2018, Adriano Pires foi indicado para fazer parte do CNPE, o Conselho Nacional de Política Energética, órgão vinculado ao Ministério de Minas e Energia e responsável por elaborar as diretrizes estratégicas do setor energético brasileiro. Para assumir o cargo, Pires deveria divulgar a lista de clientes da CBIE, mas acabou optando por declinar da posição no conselho. 

Medo de Ingerência

A indicação de Pires havia animado o mercado, que receava ingerências do governo na gestão da Petrobras e na sua política de preços. Para controlar a inflação, o governo poderia forçar o controle dos preços, fazendo a empresa perder valor e represando custos que posteriormente (após as eleições) seriam repassados todos de uma vez. No passado, já aconteceu algo parecido com o setor elétrico.

Medo de Ingerência 2

Pela formação e trajetória profissional de Pires, um controle artificial de preços dificilmente iria acontecer. Mas agora, com a sua desistência, voltam os temores de uma gestão mais política e menos profissional. Na segunda-feira, quando a notícia da desistência circulou, as ações da Petrobras se desvalorizaram mais de 1%, mesmo com o petróleo subindo mais de 5% naquele dia. 

Dúvida

Além disso, uma questão permanece. Se o governo promoveu a saída do ex-presidente da Petrobras, o general Joaquim Silva e Luna, motivado pelos seguidos aumentos de preços dos combustíveis, que impactam negativamente na inflação, por que o governo indicou um novo nome, o de Adriano Pires, que provavelmente iria manter a mesma política de preços?

Gestão Profissional

Não se sabe se o nome foi escolhido no calor da demissão de Luna e Silva e depois verificou-se que outro perfil seria mais adequado, ou se a escolha havia sido puramente técnica. Seja como for, essas idas e vindas geram um sentimento negativo, demonstrando falhas de planejamento e de gestão. Uma gestão mais profissional e menos política é mais necessária do que nunca.