Petrobras (Fernando Frazão/ Agência Brasil)
Na última sexta-feira, as ações da Petrobras tiveram um grande tombo e chegaram a recuar mais de 15% no pior momento do dia, antes de fecharem com uma desvalorização de mais de 10%. O movimento das ações da Petrobras fez com que o Ibovespa recuasse quase 2% e a empresa perdesse mais de R$ 55 bilhões em valor de mercadosomente na sexta-feira. Nesta segunda-feira, tivemos novo tombo nas ações da Petrobras, que caíram outros 1,9%.
Dividendos
O que motivou o mergulho das ações da Petrobras foi a decisão, anunciada na quinta-feira à noite, depois do fechamento do mercado financeiro, de que a empresa não pagaria os dividendos extraordinários referentes ao lucro obtido no último trimestre de 2023. Os dividendos são as parcelas do lucro destinadas a remunerar os acionistas e a decisão desagradou os investidores, que viram sinais de ingerência do governo na estratégia corporativa da empresa.
FRASE
"A confiança morre, mas a desconfiança floresce."
Sófocles, poeta grego
Dividendos Extraordinários
Os dividendos extraordinários são pagamentos feitos por empresas aos seus acionistas, além dos dividendos regulares. Eles ocorrem quando a empresa tem lucros excepcionalmente altos, vende um ativo importante ou deseja distribuir lucros acumulados. Ao contrário dos dividendos habituais, que são pagos regularmente, os extraordinários são eventos variáveis, mas que sinalizam a boa saúde financeira da empresa.
Mudança
Foi o Conselho de Administração da Petrobras que decidiu não realizar o pagamento dos dividendos extraordinários. A empresa registrou um lucro de mais de R$ 124 bilhões no ano passado, sendo mais de R$ 31 bilhões somente no último trimestre, e vinha sendo uma campeã na distribuição de dividendos aos seus acionistas. O não pagamento da parcela referente ao quarto trimestre de 2023 marca uma mudança radical de postura em relação aos acionistas.
Investimento
As primeiras justificativas para o não pagamento dos dividendos extraordinários foram de que esse recurso seria utilizado para investimento em diversos projetos, inclusive em energias renováveis. No entanto, alguns analistas apontam que essa parte dos lucros se caracterizaria como uma reserva de remuneração de capital, e não poderia ter outra destinação além do pagamento de dividendos, de juros sobre o capital próprio ou ainda para a recompra de ações.
Empresas
Na prática, no entanto, as coisas são diferentes. O dinheiro não está marcado e, se não foi pago na forma de dividendos, pode acabar mesmo tendo outras destinações. O fato é que, imaginando que o dinheiro seja de fato investido em projetos,o que deveria acontecer? Em um mundo ideal, os acionistas deveriam ser indiferentes entre receber os recursos na forma de dividendos ou em vê-los sendo reaplicados na empresa.
Recompensa
As empresas crescem ese tornam mais valiosas ao realizar investimentos (em expansão, em novas tecnologias, em pesquisa, etc.). Para o acionista, receber parte dos lucros como dividendos representa uma recompensa imediata. Não receber os dividendos e vê-los reinvestidos na empresa significa para o acionista a possibilidade de uma recompensa maior no futuro, pois a empresa da qual ele também é dono valerá mais.
Mundo Real
Acontece que o mundo não é ideal e os acionistas sabem que o dinheiro pode ser mal investido, como já aconteceu no passado, como no caso das refinarias de Pasadena e de Abreu e Lima. Nesse caso, a empresa não se torna mais valiosa. Ao contrário, se o investimento é mal feito, a empresa tem perdas, vale menos, e os acionistas ficam sem a recompensa imediata (por não receberem dividendos) e sem a recompensa futura.
Desconfiança
Toda a reação negativa do mercado em relação à postura da Petrobras acontece devido a uma enorme desconfiança em relação à gestão da empresa. Uma enorme desconfiança em relação ao risco de que a empresa seja utilizada para atender a interesses que são políticos ou partidários, e que nada têm a ver com a estratégia corporativa de uma grande empresa.