XEQUE-MATE DA ECONOMIA

Pedido Insólito

Estéfano Barioni
30/01/2024 às 10:21.
Atualizado em 30/01/2024 às 10:21
Guido Mantega (Antonio Cruz/Agencia Brasil)

Guido Mantega (Antonio Cruz/Agencia Brasil)

Um dos eventos que marcaram a semana passada foi a divulgação de um pedido insólito. Foi divulgado que o governo estaria tentando emplacar o ex-Ministro da Fazenda, Guido Mantega, para o cargo de presidente-executivo da Vale. Especulou-se que o Ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, teria entrado em contato com conselheiros da Vale para interceder a favor de Guido Mantega. Na sexta-feira, o Ministro Silveira negou qualquer interferência no processo de escolha. 

Negativa 

Segundo a declaração do Ministro Alexandre Silveira, o governo federal nunca faria qualquer tentativa de interferência direta em uma empresa como a Vale, que é de capital privado e tem suas próprias regras de governança. Nesta quarta-feira, o Conselho de Administração da Vale se reunirá e poderá decidir por um novo comando da empresa, que atualmente é presidida por Eduardo Bartolomeo, cujo mandato vai até o final de maio.

FRASE

"Não se chega a um erro deste tamanho sem ter feito um percurso todo ele equivocado".

Fernando Haddad, Ministro da Fazenda 

Vale

A Vale é uma empresa privada, de capital aberto, e atualmente é a segunda empresa mais valiosa da bolsa de valores brasileira, com quase R$ 300 bilhões em valor de mercado. A privatização da empresa aconteceu em 1997. Em 2020, o governo federal promoveu uma mega operação de venda de ações da Vale que eram de posse do BNDES. A venda das ações, que gerou pouco mais de R$ 10 bilhões, tornou a Vale uma empresa de capital pulverizado, sem bloco controlador.

Mercado

O mercado recebeu mal a divulgação de uma possível interferência do governo federal na Vale. Embora o governo não tenha poder de decisão direto na empresa, não se pode negar que uma eventual pressão desse porte é capaz de influenciar muita coisa. Além dos efeitos negativos de uma ingerência na Vale, que afetou também as ações da Petrobras, o nome escolhido para realizar essa ingerência também desagradou.

Mantega

Guido Mantega, nascido em Gênova, foi Ministro da Fazenda de 27 de março de 2006 a 1˚ de janeiro a 2015, comandando a pasta durante todo o segundo mandato do governo Lula e o primeiro mandato de Dilma. Durante a gestão Mantega, todos os indicadores econômicos pioraram, o resultado primário do país passou de um superávit de 2,4% para um déficit de -0,4% do PIB, a inflação foi de 5,3% para 10,7% ao ano e logo a seguir o país entraria na pior recessão econômica de sua história.

Pedido Insólito 2

Além dos dados, também é interessante um testemunho. Depois de ter sido eleito Prefeito da cidade de São Paulo e antes mesmo de assumir o cargo, Fernando Haddad teve uma reunião em Brasília com a então Presidente da República, Dilma Roussef, e o então Ministro da Fazenda, Guido Mantega. Nesta reunião, realizada em dezembro de 2012, Haddad também recebeu um pedido insólito.

Pedido Insólito 3

A equipe econômica do governo federal estava preocupada com a alta da inflação e, por isso, queria que Haddad mantivesse congeladas as tarifas de ônibus de São Paulo. Essas tarifas já tinham sido mantidas inalteradas nos dois anos anteriores e se Haddad, ao assumir a prefeitura, realizasse a correção nos preços, prejudicaria a apuração dos índices de inflação.

Algo Muito

Errado Nossa testemunha escreve: "Alguma coisa estava muito errada: não se pensa em controlar a inflação de um país continental pelo represamento de uma tarifa municipal sem atravessar estágios intermediários e sucessivos de uma compreensão equivocada. Não se chega a um erro deste tamanho sem ter feito um percurso todo ele equivocado. Não se produz estabilidade macroeconômica por intervencionismo microeconômico."

Artigo

Quem conta essa história e é o autor do trecho acima, que aparece entre aspas, não é ninguém menos do que o próprio Fernando Haddad. Essas declarações foram publicadas na edição 129 da revista Piauí, de junho de 2017, em artigo denominado "Vivi na pele o que aprendi nos livros: um encontro com o patrimonialismo brasileiro", de autoria do nosso atual ministro da Fazenda.

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