OPINIÃO

Pecuária regenerativa: o próximo passo além da sustentabilidade?

Por Sidney Zamora Filho
27/06/2025 às 19:08.
Atualizado em 27/06/2025 às 19:27

(Arquivo Pessoal)

Inaguramos hoje uma coluna muito especial sobre o cenário Agro no Brasil, ela será quinzenal e aberta a perguntas dos leitores através do Correio do Leitor. 

Nosso colunista Sidney Zamora Filho é pecuarista com décadas de prática no mercado. Atua pela valorização do agronegócio sustentável, promovendo boas práticas e o desenvolvimento econômico do país.

Nos últimos anos, o termo “sustentabilidade” se tornou quase obrigatório em qualquer discussão sobre agronegócio. No entanto, para além da lógica de reduzir impactos negativos, uma nova abordagem tem ganhado força entre produtores, pesquisadores e consumidores: a pecuária regenerativa.

Ao contrário do que se imagina, essa não é apenas uma tendência passageira ou um novo rótulo de marketing verde. A pecuária regenerativa propõe uma mudança de mentalidade — da lógica de “menos pior” para a de “melhor do que era antes”. Ou seja, trata-se de regenerar os solos, as pastagens, os ciclos da água e, consequentemente, a biodiversidade local, enquanto se mantém ou até aumenta a produtividade pecuária.

Na prática, o conceito envolve a integração de técnicas como o manejo rotacionado de pastagens, o plantio direto, a cobertura vegetal permanente, o uso racional da água e o baixo uso de insumos externos. Um exemplo claro é o sistema de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), cada vez mais adotado no Brasil. Ele permite que uma mesma área seja aproveitada ao longo do ano com diferentes cultivos e usos, aumentando a eficiência e reduzindo a pressão por desmatamento.

Além dos ganhos ambientais, há vantagens econômicas e sociais. Produtores que adotam esse modelo tendem a observar melhorias na fertilidade do solo, na saúde animal e na estabilidade da produção — mesmo em anos mais desafiadores do ponto de vista climático. Não por acaso, muitas startups do agro e fundos de investimento de impacto estão direcionando recursos a projetos regenerativos.

Um estudo recente da organização Regeneration International apontou que práticas regenerativas têm o potencial de sequestrar entre 1,5 e 3 toneladas de carbono por hectare ao ano. Em um país com a extensão e a força agropecuária do Brasil, esse número pode representar uma contribuição significativa para o cumprimento das metas climáticas.

Mas é preciso ser realista: a transição para a pecuária regenerativa exige investimento, capacitação e políticas públicas que incentivem a adoção dessas práticas. Pequenos e médios produtores, especialmente, necessitam de apoio técnico e financeiro para fazer essa migração com segurança e rentabilidade.

A pergunta que dá título a este artigo — “a pecuária regenerativa é o próximo passo além da sustentabilidade?” — pode ser respondida com um “sim”, desde que o setor esteja disposto a olhar para o futuro com coragem, ciência e diálogo. E é justamente nesse ponto que está a maior oportunidade para o Brasil: liderar globalmente uma pecuária que não apenas produz, mas também regenera.

Sidney Zamora Filho é pecuarista com décadas de atuação no mercado. Atua pela valorização do agronegócio sustentável, promovendo boas práticas e o desenvolvimento econômico do país.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Anuncie
(19) 3736-3085
comercial@rac.com.br
Fale Conosco
(19) 3772-8000
Central do Assinante
(19) 3736-3200
WhatsApp
(19) 9 9998-9902
Correio Popular© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por