(Arquivo Pessoal)
Inaguramos hoje uma coluna muito especial sobre o cenário Agro no Brasil, ela será quinzenal e aberta a perguntas dos leitores através do Correio do Leitor.
Nosso colunista Sidney Zamora Filho é pecuarista com décadas de prática no mercado. Atua pela valorização do agronegócio sustentável, promovendo boas práticas e o desenvolvimento econômico do país.
Nos últimos anos, o termo “sustentabilidade” se tornou quase obrigatório em qualquer discussão sobre agronegócio. No entanto, para além da lógica de reduzir impactos negativos, uma nova abordagem tem ganhado força entre produtores, pesquisadores e consumidores: a pecuária regenerativa.
Ao contrário do que se imagina, essa não é apenas uma tendência passageira ou um novo rótulo de marketing verde. A pecuária regenerativa propõe uma mudança de mentalidade — da lógica de “menos pior” para a de “melhor do que era antes”. Ou seja, trata-se de regenerar os solos, as pastagens, os ciclos da água e, consequentemente, a biodiversidade local, enquanto se mantém ou até aumenta a produtividade pecuária.
Na prática, o conceito envolve a integração de técnicas como o manejo rotacionado de pastagens, o plantio direto, a cobertura vegetal permanente, o uso racional da água e o baixo uso de insumos externos. Um exemplo claro é o sistema de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), cada vez mais adotado no Brasil. Ele permite que uma mesma área seja aproveitada ao longo do ano com diferentes cultivos e usos, aumentando a eficiência e reduzindo a pressão por desmatamento.
Além dos ganhos ambientais, há vantagens econômicas e sociais. Produtores que adotam esse modelo tendem a observar melhorias na fertilidade do solo, na saúde animal e na estabilidade da produção — mesmo em anos mais desafiadores do ponto de vista climático. Não por acaso, muitas startups do agro e fundos de investimento de impacto estão direcionando recursos a projetos regenerativos.
Um estudo recente da organização Regeneration International apontou que práticas regenerativas têm o potencial de sequestrar entre 1,5 e 3 toneladas de carbono por hectare ao ano. Em um país com a extensão e a força agropecuária do Brasil, esse número pode representar uma contribuição significativa para o cumprimento das metas climáticas.
Mas é preciso ser realista: a transição para a pecuária regenerativa exige investimento, capacitação e políticas públicas que incentivem a adoção dessas práticas. Pequenos e médios produtores, especialmente, necessitam de apoio técnico e financeiro para fazer essa migração com segurança e rentabilidade.
A pergunta que dá título a este artigo — “a pecuária regenerativa é o próximo passo além da sustentabilidade?” — pode ser respondida com um “sim”, desde que o setor esteja disposto a olhar para o futuro com coragem, ciência e diálogo. E é justamente nesse ponto que está a maior oportunidade para o Brasil: liderar globalmente uma pecuária que não apenas produz, mas também regenera.
Sidney Zamora Filho é pecuarista com décadas de atuação no mercado. Atua pela valorização do agronegócio sustentável, promovendo boas práticas e o desenvolvimento econômico do país.
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