XEQUE-MATE DA ECONOMIA

Páscoa

Estéfano Barioni
31/03/2024 às 10:52.
Atualizado em 31/03/2024 às 10:52
Comida de Páscoa (Marcelo Camargo/Agência Brasil/Arquivo)

Comida de Páscoa (Marcelo Camargo/Agência Brasil/Arquivo)

Nesta manhã de domingo de Páscoa, as famílias se preparam para os tradicionais almoços festivos e as crianças antecipam a caça aos ovos de chocolate. A Páscoa, com suas raízes na celebração da primavera no hemisfério norte e símbolos de renovação e fertilidade, como o ovo e o coelho, é também um momento que carrega um significado econômico importante. Este ano, no entanto, a doçura característica da temporada vem com um preço um pouco mais amargo para o bolso.

Ovos

A tradição dos ovos de Páscoa, que surgiu na Europa durante a Idade Média, simboliza novos começos e a ressurreição. Originalmente, ovos reais, pintados com cores vivas para representar a luz do sol e a vida, eram dados como presentes. Com o tempo, esses ovos naturais deram lugar aos ovos de chocolate, uma inovação que manteve a tradição e trouxe mais praticidade (e doçura) a esta celebração.

FRASE

"Tudo o que você precisa é amor. Mas um pouco de chocolate de vezem quandonão faz mal."

Charles M. Schulz, cartunista norte-americano 

Cesta de Páscoa

Este ano, no entanto, o dulçor está sendo temperado por uma realidade econômica menos palatável. O Instituto Brasileiro de Economia (FGV IBRE) aponta que a cesta de Páscoa para 2024 subiu 9,29% em relação ao ano anterior, uma elevação substancialmente superior à inflação acumulada no mesmo período. Embora alguns itens, como o bacalhau, tenham visto uma redução nos preços, batatas e o azeite tiveram altas de 32% e 40%, respectivamente.

Preço do Cacau

O levantamento do IBRE aponta que bombons e chocolates experimentaram uma alta de apenas 1,89% desde o ano passado. No entanto, muito mais complicada é a realidade no mercado internacional, onde o preço do cacau ultrapassou os US$ 10.000 por tonelada pela primeira vez na história devido a colheitas ruins na África Ocidental, especialmente na Costa do Marfim e em Gana, países que concentram mais de dois terços da produção mundial de cacau.

Oferta

A queda na produção nessas regiões estratégicas para a oferta mundial provocou uma escalada nos preços, gerando um mercado que, nas palavras de especialistas, está fora de controle. A oferta decrescente, atribuída a fatores como o mau tempo e doenças, além de décadas de preços baixos que impediram investimentos adequados na plantações, deixou o mundo enfrentando um déficit de cacau pelo terceiro ano consecutivo.

Preço do Cacau 2

Há um ano, o preço do cacau no mercado internacional estava em torno de US$ 3.000 por tonelada, e há apenas dois meses, este preço estava em US$ 5.000 por tonelada. A cotação de US$ 10.000 por tonelada, atingida no começo desta semana, representa um aumento de 233% em um ano e de 100% em apenas dois meses.

Repasse

A repercussão dessa volatilidade no mercado de cacau é sentida diretamente pelos consumidores. Fabricantes de chocolate, enfrentando custos crescentes, estão repassando os aumentos aos preços finais. O Brasil, que também é um produtor de cacau, tem se mantido parcialmente imune a este impacto, mas mesmo assim os ovos de chocolate chegaram às prateleiras com etiquetas de preço mais salgadas para esta Páscoa.

Globalização

O cenário econômico envolvendo o cacau e o chocolate ressalta a complexa rede de fatores globais - desde a mudança climática até práticas agrícolas sustentáveis e o jogo especulativo nos mercados de futuros - que influenciam o preço que pagamos por nossos prazeres cotidianos. Neste domingo de Páscoa, enquanto nos deliciamos com o chocolate, talvez seja oportuno refletir sobre o mundo em que vivemos e o futuro que desejamos cultivar.

Equilíbrio

A doçura de um ovo de chocolate carrega em si as nuances amargas da economia global, convidando-nos a considerar não apenas o preço que pagamos, mas o valor que atribuímos ao trabalho, à terra e aos recursos naturais que sustentam nossas tradições. Que esta Páscoa, com suas histórias de renovação e de esperança, nos inspire a buscar um equilíbrio mais doce não só em nossas mesas festivas, mas em nossa relação global com a natureza e a economia.

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