(Vítor Silva/Botafogo)
Segunda-feira teve partida do Guarani na Série B. Na terça-feira o Corinthians entrou em campo pela Copa Sul-Americana e Grêmio x Fluminense fizeram a parte inicial das oitavas de final da Copa Libertadores. Na quarta-feira, as atenções ficaram voltadas ao estádio do Engenhão, onde o Botafogo encarou o Palmeiras. Na quinta-feira, o desafio que recebeu holofotes foi o confronto do São Paulo diante do Nacional (Uruguai) na principal competição sul-americana. Sexta-feira foi reservada para o início da rodada da Série B, com empate entre Ponte Preta e Goias e a igualdade entre Novorizontino e América Mineiro. O sábado teve a largada das rodadas das séries A e C, a continuidade da Série B e os jogos decisivos da Série D.
Um calendário pesado, extenso, desgastante, que gera reclamações de jogadores, técnicos e fãs do futebol. Os dirigentes? Ah, esses querem ver os cofres dos clubes abarrotados de recursos. Se para isso ocorrer houver a necessidade de criar mais e mais competições, pouco importa.
Ninguém gosta de tocar no assunto, mas chegou o momento de discutirmos a necessidade urgente do futebol brasileiro passar por um detox. Sim, se não for possível extinguir algumas competições, que o número de participantes seja diminuído. E existe espaço para a manobra.
Faça uma retrospectiva. Se Ponte Preta e Guarani são submetidos ao Campeonato Paulista e à Série B do Campeonato Brasileiro, quem disputa a divisão de elite é submetido, na maioria das vezes, a um verdadeiro massacre. Pegue o Palmeiras. Neste ano disputou Campeonato Paulista, Super Copa do Brasil, Copa do Brasil, Copa Libertadores. Se for campeão da competição máxima da CONMEBOL poderá alcançar até 80 partidas no ano. Nem com um elenco de 50 jogadores o desgaste físico e mental vai desaparecer. Suspensões, lesões, problemas emocionais, oscilações técnicas e táticas se tornam coisas normais ao enfrentar tamanha maratona, um cardápio que inclui viagens por grandes distâncias e treinamentos que precisam ser executados.
Para completar, se você está no topo da montanha, despertando a atenção, é algo natural que seus jogadores sejam convocados para a Seleção Brasileira, responsável por cumprir calendário na Copa América e nas Eliminatórias da Copa do Mundo.
Em um mundo ideal, os estaduais não existiriam, a Série B teria um acréscimo generoso de recursos e os jogos começariam em março, sendo que fevereiro seria reservado para amistosos de preparação. Assim como fizeram os integrantes da Premier League, cuja rodada inicial foi neste final de semana.
Nem tudo é perfeito. Os campeonatos estaduais fazem parte do jogo de poder e de barganha da Confederação Brasileira de Futebol. Campeonato estadual robusto é sinal de prestígio, poder e influência. Pergunte ao presidente da Federação Paulista de Futebol, Reinaldo Carneiro Bastos, se ele topa diminuir o número de integrantes das Séries A1, A2 e A3... Nem em sonho!
E nas competições de âmbito nacional? Deveria ocorrer uma mudança total de critérios. Primeiro que os torneios estaduais são usados na atualidade como caminho para a Copa do Brasil. Errado. Em um mundo ideal, o critério deveria ser as divisões do futebol nacional. A saber: os 20 clubes da série A do ano anterior e aqueles que conseguiram acesso nas Séries B, C e D. No máximo 10 jogos, sem concessão de privilégio para ninguém.
E as Séries A, B e C? Também deveriam passar por um detox. Direto no assunto: diminuição de clubes. Pode ser muito vantajoso aos clubes, mas as 38 rodadas já são a comprovação de que é o caminho mais fácil para deixar o campeonato com tédio e por vezes sem emoção. Observação: nada contra a fórmula de pontos corridos. Pelo contrário. É a metodologia que assegura atividade aos clubes o ano inteiro. É possível planejar o local que seu time vai jogar de janeiro a dezembro.
Saída? Adotar o modelo da Alemanha e fazer um campeonato com 18 clubes. Com 34 rodadas, os clubes teriam uma janela de quatro rodadas para estabelecer atividades, como amistosos, ou simplesmente colocar os atletas para descansar. Rebaixamento? Os três últimos seriam rebaixados enquanto o quarto ficaria na dependência de um rebolo com o quarto melhor time da Série B. Ou abraçar a saída do futebol inglês com três rebaixados de maneira direta enquanto na Série B, os dois seriam automaticamente promovidos, enquanto os clubes da terceira à sexta posição participariam de um mata-mata para definir a última vaga.
Fato é que nossos jogadores estão extenuados, os torcedores cansados de assistirem a tantos jogos e a qualidade do espetáculo cai ano após ano. O que vira um gol contra tanto para quem vende o pay-perview como para quem comanda a seleção brasileira, sem possibilidade de assistir os atletas nativos em sua plenitude.
Só tenho uma certeza: do jeito que estão não dá para ficar. Ou o tema é tratado com seriedade ou pagaremos as consequências. Se é que a fatura não chegou. Afinal, o prejuízo está escancarado. Infelizmente.
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