EDITORIAL

O antagonismo filosófico sobre corpo e alma

Do Correio Popular
19/06/2022 às 10:32.
Atualizado em 19/06/2022 às 10:32
Diógenes, pintura de Jean-Léon Gérôme (1860) (Reprodução)

Diógenes, pintura de Jean-Léon Gérôme (1860) (Reprodução)

Ora valorizado, ora desprezado e até condenado, a concupiscência humana sempre foi motivo de muita especulação. Diógenes - uma das principais figuras da Grécia antiga - dizia que o cinismo deveria ser o fio condutor da sobrevivência. Os cínicos rejeitavam regras, vida social, propriedade, governo e política, desprezavam o dinheiro e possuíam apenas o necessário para sobreviver. Diógenes ainda acreditava que era preciso se concentrar somente nas necessidades naturais. Nesse sentido, tudo se encaixa como manifestação do ser, pois tudo é permitido desde que venha da natureza humana.

Arthur Schopenhauer é considerado o filósofo mais pessimista. Para o pensador alemão, a única maneira de os humanos conterem o sofrimento é reduzir seus desejos a um nível insignificante. Segundo ele, o ser humano não busca os relacionamentos pela intimidade, mas pela necessidade biológica de se reproduzir. Em contradição direta com essa ideia, Friedrich Nietzsche, autor de "Assim falou Zaratustra", pregava a necessidade de deixar de ouvir a "voz da consciência" para ouvir o "a voz do corpo", único caminho a ser percorrido para se superar e abrir novas possibilidades.

Seguindo a mesma linha de pensamento traçado por Nietzsche, o filósofo francês Michel Foucault trata do que denomina falsas liberdades e das contradições que a sociedade burguesa manifesta por meio de sentimentos reprimidos em diferentes momentos da história. Para Foucault, o prazer deve ser interpretado como uma valorização da personalidade.

Platão condenava o prazer porque entendia que se tratava apenas do corpo. Em sua concepção, o propósito da vida é cuidar da alma, principalmente por meio do desenvolvimento intelectual.

Influenciado pelo pensamento platônico, Santo Agostinho se encarregou de reforçar a ideia do "pecado original" e difundir o conceito da Igreja como a morada espiritual de Deus, distinta em todas as coisas do mundo físico do homem. Segundo o filósofo, se o corpo é considerado a morada da tentação, animalidade e pecado - portanto, deve ser purificado pelo sacrifício, jejum e oração -, a alma, por sua vez, tem a capacidade de aproximar o homem do divino. Nesse sentido, o homem somente poderá ser "salvo" se valorizar a alma em detrimento do corpo. Com visões e conceitos tão antagônicos, alguns diametralmente opostos, há que se aprofundar no tema, que há séculos desafia a compreensão, pois dela decorre toda a fonte da própria perenidade da espécie, algo caro para a humanidade.

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