XEQUE-MATE ECONOMIA

Multiplicadores

Esféfano Barioni
17/03/2023 às 13:16.
Atualizado em 17/03/2023 às 13:16
Dinheiro (Reprodução]ao)

Dinheiro (Reprodução]ao)

No último fim de semana, uma teoria econômica foi citada indiretamente nas páginas deste jornal. De acordo com a citação, se alguém gasta R$ 10 na padaria, isso representaria uma injeção de R$ 50 na economia do país, porque a padaria gasta o valor com os seus fornecedores e funcionários, que por sua vez gastarão em outros negócios e etc. Essa ideia faz alusão à teoria do multiplicador keynesiano de renda, que merece ser melhor explicada e discutida.

Multiplicadores 2 

O multiplicador keynesiano de renda é uma teoria econômica desenvolvida por John Maynard Keynes para determinar o quanto o produto da economia se expande em resposta a um aumento nos gastos governamentais. Esse efeito acontece por conta da circularidade da economia, ou seja, pelo fato de que os setores são todos interligados. Quando um deles é acionado, surgem efeitos indiretos que se multiplicam.

FRASE

"Não há evidências de que os gastos do governo tenham um impacto de longo prazo no crescimento econômico"

Eugene Fama, prêmio Nobel de Economia em 2013 

Economia circular

Imagine uma economia com apenas dois sujeitos: João e José. João produz alimentos e José produz insumos (como fertilizantes) para a produção de alimentos, de modo que um compra do outro. Se José receber uma renda extra de R$ 1.000 ele gastará uma parte, digamos 80%. Seriam R$ 800 para a compra de mais alimentos. João receberá esses R$ 800 adicionais e gastará R$ 640 na compra de mais insumos. Esses $ 640 retornaram a José, que gastará mais R$ 512 e assim por diante.

Ciclo

O aumento de gastos do governo produziria uma demanda extra — os R$ 1.000 que surgiram como renda extra de José —, que levaria a um aumento de produção e de renda. Segundo esse pensamento, quando mais dinheiro é gasto na economia, mais renda é gerada, e quanto mais renda é gerada, mais dinheiro é gasto, formando um ciclo virtuoso.

Na prática

Na teoria funciona bem, mas na prática as coisas são mais complicadas. Como se pode inferir do exemplo com apenas dois indivíduos, o multiplicador keynesiano de renda é uma simplificação da realidade econômica. Em uma economia real e aberta é difícil prever todas as variáveis que irão afetar o consumo e o investimento. José poderia, por exemplo, receber a renda extra e comprar criptomoedas ou importar fertilizantes de um produtor estrangeiro.

Curto prazo

Muitos estudos já foram realizados para determinar o valor do multiplicador keynesiano, que é muito difícil de ser medido, uma vez que pode ser afetado por diversas variáveis, como fatores políticos e a confiança do consumidor e do investidor. As conclusões mais recentes levam a crer que o multiplicador é menor do que se esperava pela teoria (certamente é bem menor do que cinco) e que seus efeitos são de curta duração.

Fiscal

Embora os gastos públicos tenham, de fato, o poder de estimular a economia, esse estímulo é limitado e fica restrito ao curto prazo, especialmente em um mercado cada vez mais complexo e dinâmico, onde existem inúmeras oportunidades de vazamentos. Para seus efeitos serem mantidos, o governo teria que sempre injetar mais dinheiro de modo que José sempre encontre mais R$ 1.000 em sua carteira.

Críticas

As principais críticas ao uso excessivo da ideia do multiplicador keynesiano no debate político, argumentam que sua complexidade é ignorada e que sua aplicação não deve ser reduzida a uma simples equação matemática, sem que se considere as nuances e todas as variáveis do contexto econômico. A expansão de gastos pode trazer poucos benefícios no curto prazo, mas aumentar o endividamento e alimentar a inflação, reduzindo o crescimento no longo prazo.

Gastar mal

Embora o multiplicador keynesiano seja uma ferramenta interessante de análise econômica, é preciso conhecer suas limitações. Sua utilização inadequada pode levar a decisões econômicas prejudiciais, acreditando que a expansão indiscriminada de despesas é algo positivo. Não é. Gastar muito é quase sempre sinônimo de gastar mal, o que não gera benefício algum.

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