Moeda Comum (Pixabay)
Nesta semana, o Presidente Lula faz a primeira viagem oficial de seu novo mandato, visitando a Argentina. Entre outros temas que serão discutidos está o plano para a criação de uma moeda comum sul-americana, que serviria tanto para operações comerciais como também para transações financeiras. O projeto de moeda não tem nome ainda, mas uma das propostas é chamá-la de "Sur".
Projeto
O projeto ainda está em estágio embrionário. Serão ainda iniciados os trabalhos preliminares para o desenvolvimento da moeda comum que, se for avante, eventualmente seria adotada inicialmente por Brasil e Argentina, com os outros países da América do Sul aderindo aos poucos, ao que se tornaria o segundo maior bloco de moeda única do mundo, atrás da Zona do Euro.
FRASE
"Eu não quero criar expectativas falsas, é o primeiro passo de um longo caminho que a América Latina deve percorrer."
Sergio Massa, Ministro da Economia argentino
Objetivos
A ideia não é nova e já tinha sido aventada anos atrás, mas se realmente houver o anúncio dos desenvolvimentos desse plano, será a primeira vez que o projeto entrou na pauta oficial das duas maiores economias da América do Sul. O objetivo seria aumentar o comércio regional entre os países e diminuir a dependência externa do dólar, diminuindo o custo das transações.
Uniformidade
A moeda comum seria utilizada tanto para fluxos comerciais como fluxos financeiros. Muitos passos precisariam ainda ser realizados e muito precisa ser discutido, como a definição de questões fiscais, o papel dos bancos centrais de cada país, uniformização da taxa de juros etc. Por exemplo, se os juros na Argentina forem muito maiores do que no Brasil (como atualmente são), seria possível pegar um empréstimo no Brasil e aplicar na Argentina, sem risco cambial, tendo ganho certo.
Moeda Comercial
Inicialmente, a moeda comum seria utilizada em paralelo ao Real e ao Peso Argentino, especialmente nas transações comerciais e financeiras envolvendo os dois países, mas sem substituir o uso corrente das moedas nacionais dentro de cada um deles. Esse seria um eventual passo adiante, uma fase 2 que poderia criar um bloco de moeda comum aos moldes da União Europeia, mas que ainda está muito longe de acontecer.
Euro
O mais provável é que essa segunda fase nunca aconteça. Mesmo contando com economias sólidas e estáveis, a adoção da moeda comum na Europa foi problemática e ainda hoje continua sendo, por causa das grandes diferenças entre os países e suas capacidades econômicas. A crise na Grécia, em 2010, quase arrastou toda a região e abalou o poder de compra do Euro, que perdeu 18% de seu valor na ocasião.
Sur
No caso da América do Sul, as diferenças entre os países também são enormes. O Brasil mantém sua estabilidade econômica, embora tenha atravessado crises nos últimos 10 anos. Na Argentina, a instabilidade é enorme. A inflação no país fechou o ano passado em quase 100% ao ano e o Peso Argentino teve desvalorização de mais de 77% desde janeiro de 2022. Em 2020, a Argentina ainda deu o calote no pagamento de uma dívida internacional e está fora do mercado de crédito externo.
Virtual
Caso venha a se tornar realidade, o Sur deve ser apenas uma moeda de referência comercial, uma moeda virtual utilizada somente nas transações entre os dois países, sem nunca se tornar uma moeda corrente. Seria um meio alternativo para o comércio entre os dois países, que tem diminuído de maneira significativa, voltando a níveis pré-Mercosul, pois a Argentina não possui reservas de dólares para importar os produtos brasileiros.
Eleições
Outra possibilidade é que o projeto nunca decole e que o seu anúncio realizado agora seja apenas uma tentativa de ajudar a popularidade do presidente argentino, que tentará sua reeleição no final de outubro. Se o peso argentino perdeu grande parte da confiança e do valor, a promessa de uma nova moeda, em comum com o Brasil, pode ajudar a atrair os eleitores.