Inflação (Pixabay)
O novo furacão que tem varrido os mercados mundiais e também a bolsa de valores brasileira é causado pelos dados de inflação nos Estados Unidos, divulgados nesta quarta-feira. A inflação ao consumidor americano do mês de junho ficou em 1,3% fazendo a inflação acumulada alcançar a taxa de 9,1% ao ano. É a maior taxa de inflação dos últimos 41 anos nos Estados Unidos.
Inflação
Além de estar nos níveis mais elevados das últimas quatro décadas, mais alto do que o dado anterior e mostrando que a inflação ainda está acelerando nos Estados Unidos, o valor da inflação veio bem acima das projeções de mercado. Ou seja, já se esperava uma notícia ruim, mas o dado verificado foi pior ainda. Isso afetou negativamente os mercados.
FRASE
“Uma economia robusta é a fonte de força de uma nação."
Shinzo Abe, ex-primeiro ministro japonês
Efeitos
Depois da divulgação da inflação norte-americana, em dois dias as bolsas norte-americanas chegaram a cair -2,3%, recuperando-se parcialmente depois. Na Europa, a queda foi de -2,6% e, no Brasil, o índice Ibovespa teve variação negativa de -2,1%. Além disso, nessa semana o dólar passou de R$ 5,26 para R$ 5,42 (ganho de 3% sobre o Real) e, de quebra, a moeda norte-americana ultrapassou o Euro em valor.
Desaceleração
O motivo das quedas das bolsas é o temor de um grande desaquecimento da economia mundial. Para combater a inflação recorde, o banco central dos Estados Unidos deve intensificar a elevação da taxa de juros. Com isso, o crédito ficará mais caro, as empresas venderão menos, desenvolverão menos projetos e o crescimento será menor, podendo até regredir para um estágio de recessão econômica em 2023.
Dólar
A alta do dólar, frente ao Real, ao Euro e praticamente a todas as moedas, também é motivada pela alta mais intensa na taxa de juros. Com juros mais elevados, a renda fixa norte-americana se torna mais rentável, atraindo mais investidores que abandonam outros investimentos, inclusive em outros países. Esse fluxo de recursos fortalece o dólar.
Risco
Grande parte das fortes reações do mercado se deve ao relativo ineditismo da situação atual. Como trata-se da inflação mais alta dos últimos 40 anos nos Estados Unidos, uma geração inteira de profissionais, economistas e banqueiros (inclusive os que dirigem o banco central norte-americano) está lidando pela primeira vez com um problema desse tipo. Isso aumenta a percepção de risco.
Aperto Monetário
O FOMC, órgão dos Estados Unidos equivalente ao nosso Copom, decidirá o valor da nova taxa de juros no dia 27 de julho. Antes da divulgação do último dado de inflação, o mercado dividia-se entre um aumento de 0,75 ponto percentual (mais provável) ou um aumento de 0,50 ponto percentual (menos provável). Agora as chances de um aumento de 0,50 ponto percentual desapareceram e já se fala na possibilidade de um aumento ainda mais forte, de 1,00 ponto percentual.
Aperto Monetário 2
Assim, no final de julho, a taxa de juros nos Estados Unidos deve ir para 2,50% ao ano (no caso do aumento de 0,75 pp.) ou para 2,75% ao ano (no caso do aumento mais forte, de 1 pp.). No cenário de maior aperto monetário, seria a taxa de juros mais elevada desde 2008, longo antes da crise financeira das subprime.
Juros no Brasil
O ciclo de juros no Brasil não deve ficar indiferente a esse movimento. Para manter o diferencial de juros entre investimentos no Brasil e nos Estados Unidos, preservando o valor de nossa moeda, será necessário prosseguir no ciclo de alta da Selic. A situação pode exigir que os juros sejam elevados até atingir 15% ou 16% ao ano. A próxima decisão do Copom ocorre no dia 3 de agosto.
Moeda
O Real deve enfrentar muita volatilidade nos próximos meses. Além da turbulência internacional, enfrentaremos o período eleitoral, que já está provocando estragos na política fiscal, aumentando o nosso risco. O risco-país já subiu para o valor máximo dos últimos dois anos. Se subir mais ainda, novos aumentos na taxa de juros podem ser necessários para manter o valor do Real.