Houve um aumento de quase 50% nos casos de abuso sexual infantojuvenil entre janeiro e abril deste ano (Reprodução)
O retorno às aulas presenciais trouxe ao ambiente escolar uma triste e perigosa realidade camuflada nos lares brasileiros. Após um período de dois anos no qual as crianças viveram confinadas, assistindo às aulas pela internet, as autoridades da rede de assistência social do município constataram um aumento de quase 50% nos casos de abuso sexual infantojuvenil entre janeiro e abril deste ano. Nesse período, 119 casos vieram à tona, uma média de quase 30 por mês contra 20 mensais registrados no ano passado. Os dados foram divulgados pelo Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), com base no Sistema de Notificação de Violência (Sisnov). Esse aumento de violência é explicado pela óbvia subnotificação havida nos dois anos de pandemia, uma vez que o público discente infantil ficou isolado em seus lares e, desafortunadamente, uma parte conviveu com sérias mazelas e distúrbios familiares. Esse distanciamento social represou a descoberta de novos casos. A volta ao ambiente escolar devolveu a elas o ambiente favorável para revelação dessas ocorrências danosas à integridade psicológica e à própria formação da personalidade desses indivíduos.
Diante disso, percebe-se o papel fundamental que a escola exerce na recepção de denúncias de abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes. É chocante constatar que 95% dos casos ocorrem no lar, com o agressor sendo o pai, padrasto, irmão mais velho, tio ou avô, e por aí vai. Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul descobriu que o perfil dessRees algozes da infância e adolescência é de pessoa dotada de boa articulação ao falar e adequada noção das normas sociais. Essa verificação serve para mostrar, segundo esse estudo, que homens que cometem abuso sexual contra crianças não podem ser taxados de psicopatas, insanos, animais ou não-humanos. Outrossim, eles devem ser considerados como pessoas que precisam de tratamento, porém, sem prejuízo da integral imputação penal pelos atos.
Lidar com o tema em questão é uma tarefa complexa que envolve diversas áreas como a justiça, psicologia e saúde pública, entre outras. É essencial que profissionais que estejam na área de proteção possuam um conhecimento elementar sobre o assunto, que suscita tanta controvérsia e indignação. Sendo assim, é preciso tirar o tema da invisibilidade, informando, sensibilizando, mobilizando e convocando a sociedade a participar da causa em defesa dos direitos da criança e adolescentes.