Logística e Inflação

A inflação vem regredindo pelo terceiro mês consecutivo. A queda no índice de inflação é principalmente reflexo da redução de impostos sobre os combustíveis e sobre a energia elétrica, produzindo efeitos diretos e indiretos nos preços gerais. O recuo no preço internacional do petróleo também ajudou a aliviar os preços dos combustíveis, com efeitos tanto para o consumidor final como para empresas de transporte, mas o principal fator foi a redução dos impostos.

Impostos

No entanto, podemos esperar que mais cedo ou mais tarde os impostos serão aumentados de novo. Dificilmente os governos estaduais continuarão por muito tempo abrindo mão dessa enorme fonte de receita que é o ICMS sobre os combustíveis. Enquanto não houver uma ampla reforma tributária, a possibilidade de novo aumento das alíquotas de ICMS estará sempre à porta, espreitando.

FRASE

'Eu nunca prevejo taxas de frete; ninguém pode fazer isso."

Soren Skou, empresário de logística dinamarquês

Circunstâncias
Sendo assim, os impactos na inflação podem ser temporários ou mais duradouros, dependo das circunstâncias econômicas. A retirada de impostos aconteceu em um momento de muito estresse no mercado de petróleo e de grande desarranjo logístico no contexto pós-pandemia. Se o cenário se normalizar, os impostos poderiam até retornar sem provocar novas pressões sobre a inflação. Portanto, vale a pena a investigação sobre como está a situação atual.

Petróleo
O preço do petróleo, que chegou a estar abaixo dos US$ 85/barril na última semana de setembro, voltou a subir e atualmente está cotado na faixa dos US$ 97/barril (aumento de 14% em duas semanas). A alta ocorreu com a piora no conflito entre Rússia e Ucrânia e com a OPEP reduzindo a produção para forçar aumento dos preços. Mas, por enquanto, não há reflexos na curva de preços futuros do petróleo e novos aumentos podem não acontecer. 

Logística
A pandemia causou impactos gigantescos na logística global afetando profundamente as cadeias de suprimentos. Os fechamentos realizados para tentar conter a proliferação do vírus causaram uma redução brusca da oferta. Unidades produtivas e portos ficaram fechados, fazendo com que aumentasse o custo e o tempo de entrega das mercadorias e produtos destinados a atender a uma demanda que se manteve, sustentada pelos estímulos fiscais e monetários adotados pelos governos ao redor do mundo. 

Gargalos 
Os gargalos na produção e no transporte de mercadorias provocaram escassez de produtos e aumento dos custos logísticos. Esses gargalos causaram paralisações de unidades produtivas por falta de insumos e tiveram impactos em cascata na oferta de bens. O descompasso entre a oferta (abalada pela pandemia) e a demanda (mantida aquecida pelos estímulos) foi a principal causa da inflação em todo o mundo.

Custo de Transportes
Os custos de transporte, tanto aéreo como marítimo, subiram rapidamente com a pandemia, devido a suspensão de rotas aéreas, fechamento de portos e falta de contêineres, com muitas unidades presas em locais em lockdown. Recentemente o custo do transporte aéreo começou timidamente a recuar, mas o frete marítimo continua elevado, especialmente para transações que utilizam contêineres como é o caso dos produtos importados pelo Brasil. 

Prazos
Os prazos de entrega começam a esboçar uma normalização embora ainda continuem com médias superiores ao período pré-pandemia. Prazos maiores implicam em custos aumentados. A evolução dos prazos de entrega dependerá de eventuais novos focos de Covid-19 e das políticas de contenção, especialmente na China. 

Demanda
A escassez de alguns produtos continua grande e muito tempo ainda deve ser necessário para a completa normalização. Mesmo assim é possível que a pressão na cadeira de suprimentos seja reduzida, permitindo uma acomodação de preços. Isso acontecerá caso as políticas monetárias contracionistas adotadas pelos países desenvolvidos provoquem uma ampla redução da demanda mundial.