Livraria Cultura (Reprodução)
Na semana passada, um juiz da 2ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo decretou a falência da Livraria Cultura. A empresa, que ainda pode recorrer da decisão, estava em recuperação judicial desde 2018. No entanto, segundo o magistrado, o plano de recuperação não estava sendo cumprido e a empresa estava falhando em prestar adequadamente as informações do processo aos seus credores.
Recuperação
A recuperação judicial é um instrumento utilizado para proteger os ativos de uma empresa que está atravessando graves dificuldades financeiras. A empresa em recuperação deve elaborar um plano de reestruturação e de pagamento que deve ser aprovado pelos credores, que por sua vez ficam impedidos de pedir a falência da empresa e de penhorar os seus ativos. Assim, a empresa pode manter suas atividades operacionais enquanto cumpre o plano de recuperação.
FRASE
"Os melhores alunos vêm de lares onde a educação é reverenciada, onde há livros e os filhos veem seus pais lendo
Leo Buscaglia, escritor norte-americano
Falência
Com a falência decretada, a situação muda de figura. Os ativos financeiros da empresa ficarão bloqueados e seus ativos físicos serão identificados e avaliados. As lojas serão lacradas e os ativos liquidados para pagamento dos credores. Quando a empresa entrou com o pedido de recuperação judicial, suas dívidas passavam de R$ 280 milhões. No fim do processo de falência, a empresa deixará definitivamente de existir.
Crise
A situação financeira da Livraria Cultura começou a degringolar com a acirrada concorrência do varejo online e teve uma queda acentuada com a recessão econômica que o Brasil atravessou em 2015-2016, que causou um grande impacto nas vendas. A administração da empresa também indica elevados custos e queda no interesse geral pela leitura como motivos para o fraco desempenho econômico da empresa.
Vendas Brasil
As vendas de livros no Brasil somam em torno de R$ 5,8 bilhões por ano. Se excluirmos as compras de livros realizadas pelo Ministério da Educação, as vendas somam pouco menos de R$ 4 bilhões por ano. Considerando a nossa população, o brasileiro gasta em média R$ 18,45 por ano em livros. Se verificarmos os preços dos livros, chegaremos à conclusão de que grande parte da população não compra sequer um livro por ano.
Vendas mundo
A título de comparação, as vendas de livros movimentam US$ 25,9 bilhões por ano nos Estados Unidos, que é o maior mercado editorial do mundo. Considerando a sua população e a taxa de câmbio, o americano gasta em média pouco mais de R$ 400 por ano em livros. Na Itália, as vendas de livros impressos representam um faturamento de 1,7 bilhões de Euros anualmente. O italiano gasta, em média, o equivalente a R$ 160 por ano em livros.
Desenvolvimento
As Nações Unidas, através da UNESCO, reconhecem a relação entre vendas de livros (e o acesso a eles) e o desenvolvimento de uma nação. Maiores mercados editoriais estão relacionados com maiores níveis educacionais da população. Por sua vez, esses também estão relacionados com maiores níveis de produtividade na economia e, acima de tudo, um mais amplo exercício da cidadania.
Governo
Qual o papel do governo nisso? Certamente não é o de salvar a Livraria Cultura, pois se fizesse isso estaria gastando recursos públicos para manter uma empresa que continuará tendo dificuldades de sobreviver, pois as causas do problema continuariam existindo. O papel do governo é investir na educação e em programas para incentivar a leitura. No entanto, as pessoas também precisam fazer a sua parte.
Valorização
Com a falência da Livraria Cultura, o fechamento de suas lojas e também o fechamento de outras livrarias pelo país, perdemos na economia, com menos negócios sendo realizados e menos geração de renda, e nossa sociedade também perde um pouco mais de espaços dedicados à cultura. Se você lamenta por isso, vá a uma livraria perto de você e compre um livro. Incentive as empresas que você aprecia e que prestam serviços que você valoriza.
