XEQUE-MATE DA ECONOMIA

Juros e investimento

Esféfano Barioni
29/03/2023 às 14:19.
Atualizado em 29/03/2023 às 14:19
Juros (Reprodução)

Juros (Reprodução)

Mantidas a 13,75% ao ano, é inegável que as taxas de juros no Brasil estão em um patamar bastante elevado. O nível atual de juros foi alcançado em agosto de ano passado e tem sido mantido desde então. Além disso, a perspectiva é que os juros ainda demorem a baixar, por conta da inflação persistente e distribuída em diversos setores da economia. 

Crescimento

Taxas de juros em níveis elevados são prejudiciais para o crescimento econômico pois inibem o investimento. Como o custo do capital se torna mais alto, apenas os projetos mais rentáveis são executados. Muitos projetos acabam não sendo realizados, pois não oferecem viabilidade econômica frente ao elevado custo do capital. Assim, temos menos projetos, ou seja, menos investimentos, geração de empregos e crescimento. 

FRASE

"As taxas de juros são uma ferramenta para estimular ou desacelerar uma economia, mas não são a única ferramenta"

Mark Carney, economista canadense
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Investimento
Tudo isso é um fato inegável. No entanto, é um exagero acreditar que as taxas de juros a 13,75% ao ano tornam inviável qualquer investimento produtivo, que contribua diretamente para o aumento da capacidade produtiva real (como a instalação de equipamentos, construção de fábricas, etc.). Sem dúvida, temos taxas de juros elevadas, mas não são taxas de juros tão asfixiantes como muitos discursos dão a entender. 

Investimento 2
"Quem irá investir com juros a 13,75% ao ano?" é a pergunta mais repetida, dando a entender que os empresários preferem obter uma remuneração bruta de 13,75% ao ano, sem riscos, do que empreender. Não é bem assim. Há que se afirmar novamente que esse nível de juros é bastante elevado e isso reduz o nível de atividade econômica, mas grande parte das empresas oferece uma remuneração ao capital maior do que essa taxa de juros. 

Demonstrações
Isso pode ser observado analisando as demonstrações financeiras das empresas listadas em bolsas de valores. Esses documentos são públicos, divulgados nos portais de relações com os investidores das empresas (muitos são publicados também neste jornal) e as principais informações sobre os resultados das empresas também estão disponíveis nos principais portais sobre finanças. 

ROE
O parâmetro que mostra a taxa de retorno sobre o capital das empresas é o ROE (Return on Equity, ou Retorno sobre o Patrimônio Líquido). Matematicamente, o ROE é calculado a partir do lucro líquido gerado pela empresa dividido pelo seu patrimônio líquido (que é a porção de capital próprio da empresa, o restante é endividamento). Assim, o ROE é o retorno obtido em relação ao capital aplicado pelos acionistas. Ou, simplesmente, é a taxa de retorno líquida do acionista. 

Retorno
Se analisarmos o ROE médio das empresas brasileiras dos últimos cinco anos, veremos que muitas tiveram retornos maiores do que 14% ao ano. É o caso de Vale (27,4%), Petrobras (16,3%), Itaú (18,1%), CPFL Energia (25,3%), Ambev (17,3%), Weg (15%), Lojas Renner (20,4%), entre outras. Deve-se lembrar ainda que o ROE é uma taxa líquida de impostos (é calculado a partir do lucro líquido), ao passo que a taxa de 13,75% da Selic é um rendimento bruto, com impostos a pagar. 

Retorno 2
Obviamente as operações das empresas estão sujeitas a risco, enquanto a renda fixa é um investimento seguro. Porém, os resultados acima são a média dos últimos cinco anos. Em alguns anos o retorno foi maior, em outros foi menor (esse é o risco). No entanto, na média dos últimos cinco anos, todas essas empresas ofereceram retornos líquidos ao acionista maiores do que 14% ao ano. Com pandemia e tudo.

Crescimento
É claro que todas as empresas citadas são empresas grandes, já bem estabelecidas em seus mercados, e empresas de menor porte podem ter dificuldades em obter as mesmas taxas de retorno. Os juros altos são de fato um limitante ao crescimento, mas a economia não se resume somente à taxa de juros. Em 2004 tivemos uma das melhores taxas de crescimento deste século, com o PIB aumentando +5,8%. A Selic estava em 15,14% ao ano. 

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