XEQUE-MATE ECONOMIA / POR ESTÉFANO BARIONI

Juros e Inflação

Estéfano Barioni
07/10/2022 às 13:45.
Atualizado em 07/10/2022 às 13:45
Juros (Reprodução)

Juros (Reprodução)

Desde março do ano passado, a taxa básica de juros da economia brasileira vem sendo paulatinamente elevada até chegar ao nível atual de 13,75% ao ano. A elevação da taxa básica de juros é transmitida pelo sistema financeiro nacional, aumentando o custo do crédito para as pessoas e empresas, fazendo recuar a demanda de curto prazo e impedindo os preços de subirem. 

Queda de Preços

No entanto, a inflação só começou a ceder quando o governo reduziu o ICMS cobrado sobre os combustíveis e a energia elétrica. Isso reduziu imediatamente os preços desses itens, impactando também outros setores e produzindo efeitos em cascata. A queda do petróleo, que passou de US$ 130/barril no começo de março para US$ 85/barril no fim de setembro (queda de 35%), também contribuiu muito para a queda geral dos preços. 

FRASE

'Produção é a única resposta para a inflação."

Chester Bowles, diplomata norte-americano

Transmissão
No entanto, todo o esforço de política monetária, aumentando a taxa básica de juros da economia, pareceu não surtir efeitos significativos sobre a inflação. Os preços caíram apenas quando houve mudanças tributárias e de mercado. Assim, vale a pena investigar como aconteceu a transmissão do aumento dos juros no sistema financeiro nacional, resultando em juros maiores para pessoas e empresas. 

Mecanismo
A taxa de juros atua sobre a inflação ao reduzir a liquidez da economia, diminuindo a quantidade de dinheiro em circulação. Com juros maiores, o crédito fica mais caro e menos empréstimos são realizados. Além disso, juros maiores oferecem mais incentivos para que as pessoas poupem, deixando o dinheiro no banco, pois ele rende mais. Com menos dinheiro disponível para o consumo, a demanda de curto prazo cai e os preços cedem. 

Mecanismo 2
Todo esse mecanismo depende das taxas de juros oferecidas a empresas e pessoas físicas. O Banco Central realiza a política monetária fazendo com que a taxa de remuneração dos títulos públicos negociados no mercado seja igual ao valor definido pelo COPOM como alvo para a taxa Selic. Como os títulos públicos são utilizados como garantia nas operações de empréstimos entre os bancos, a sua remuneração acaba afetando todas as outras taxas de juros. 

Crédito
Existem basicamente dois tipos de crédito, o chamado crédito livre, cujas taxas são negociadas livremente, e o chamado crédito direcionado, que são linhas de empréstimo destinadas a finalidades específicas e "patrocinadas" pelo governo, tais como linhas de financiamento imobiliário e de crédito rural. Atualmente, as modalidades de crédito livre representam 66% do saldo total de crédito a pessoas físicas e 75% dos empréstimos a empresas. 

Repasses
O crédito livre é o segmento mais sensível aos aumentos da taxa Selic. Nesse segmento, as instituições financeiras conseguem repassar rapidamente aos tomadores de crédito os aumentos das taxas de juros. Um estudo do Banco Central mostrou que a maior parte dos repasses acontece em menos de 3 meses tanto para as pessoas físicas como para empresas. No caso do crédito direcionado, o repasse é mais lento, ocorrendo no período entre 3 e 9 meses a partir da alta da Selic. 

Aumentos
Além disso, os repasses são muitas vezes potencializados no segmento de crédito livre, resultando em taxas de juros ainda maiores ao público. O aumento de 1 ponto percentual na taxa Selic resulta, ao final de 12 meses, em um aumento médio de 1,73 ponto percentual no crédito pessoal e em um aumento médio de 4,43 pontos percentuais no cheque especial. Já a taxa de desconto de duplicatas tem um aumento médio de 1,51 ponto percentual a cada ponto percentual da Selic. 

Demanda
A transmissão dos aumentos da taxa básica de juros no custo final do crédito tem ocorrido de maneira rápida e intensa. Se os efeitos desses aumentos para controle da inflação não foram rapidamente sentidos, é sinal de que os preços não subiram devido a uma inflação de demanda, mas por causa de outros fatores circunstanciais e estruturais da economia brasileira.

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