XEQUE-MATE ECONOMIA / POR ESTÉFANO BARIONI

Juros e Inflação

Estéfano Barioni
30/09/2022 às 15:11.
Atualizado em 30/09/2022 às 15:11

Juros (Reprodução)

O Brasil encerrou, pelo menos por enquanto, o seu mais intenso ciclo de alta de juros da história recente. Entre março do ano passado e agosto deste ano, um período de pouco menos de um ano e meio, a taxa básica de juros subiu de 2% para 13,75% ao ano. Esse grande aumento foi motivado para conter a escalada dos preços. 

Crescimento

No entanto, juros mais elevados prejudicam o ritmo de crescimento do país. Quando os juros são altos, o crédito fica mais caro e isso diminui a demanda e a atividade no curto prazo. Além disso, juros mais altos fazem com que menos projetos sejam conduzidos. Devido ao custo do capital, muitas vezes torna-se melhor deixar o dinheiro rendendo no banco do que empreender. Com menos investimentos em projetos, o país perde oportunidades de crescimento no longo prazo. 

FRASE

"As pessoas têm uma relação de amor e ódio com a inflação. Odeiam a inflação, mas amam tudo aquilo que a provoca."

William Simon, ex-secretário do Tesouro dos Estados Unidos

Preços
Apesar do efeito negativo sobre o crescimento, os juros elevados produzem o efeito positivo de reduzir a elevação dos preços, pois atuam no sentido de reduzir a demanda. Com o custo do crédito mais elevado e com mais incentivos a poupar, diminui-se a quantidade de dinheiro em circulação, a demanda de curto prazo cai e os preços tendem a cair. 

Juros Brasil
Os juros no Brasil estão em um patamar significativamente alto (13,75%). Mais alto do que os juros das principais economias como Estados Unidos (3,25%), União Europeia (1,25%), Reino Unido (2,25%), Japão (-0,10%), Austrália (2,35%), Canadá (3,25%) e também mais altos do que os dos nossos pares BRICS que são Rússia (7,50%), Índia (5,40%), China (3,65%) e África do Sul (6,25%) e também mais altos do que países similares como o México (8,50%). 

Juros Reais
Todas essas taxas de juros são nominais. Para os efeitos práticos na economia, o que importa é a taxa de juros real, que é a diferença entre a taxa de juros nominal e a inflação. Se você tiver dinheiro no banco rendendo a juros de 10% a.a., mas a inflação é de 15% a.a., na verdade os juros reais são negativos. Os rendimentos não cobrem sequer a inflação. Nesse caso, seria melhor tirar o dinheiro do banco e comprar o que se precisa antes que o preço aumente. 

Inflação
A inflação no Brasil começou a recuar, mas ainda está alta, aos 8,73% ao ano. Está no mesmo patamar de Estados Unidos (8,3%), Europa (9,1%), Reino Unido (9,9%), México (8,7%), África do Sul (7,6%), Canadá (7%) e Índia (7%). Com uma inflação um pouco mais baixa estão Austrália (6,1%), Japão (3%) e China (2,5%). A Rússia está com inflação mais elevada (14,3%), por conta das consequências da guerra e das sanções econômicas. 

Juros Reais 2
Nesta lista de países, o Brasil aparece em primeiro lugar em juros reais, sendo um dos únicos com juros reais positivos. Em ordem decrescente de juros reais temos: Brasil (4,62%), China (1,12%), México (-0,18%), África do Sul (-1,25%), Índia (-1,50%), Japão (-3,01%), Canadá (-3,50%), Austrália (-3,53%), Estados Unidos (-4,66%), Rússia (-5,95%), Reino Unido (-6,96%) e Europa (-7,20%). 

Queda da Inflação
O Brasil também esteve com juros reais negativos (taxa de juros menor do que a inflação) entre a primeira metade de 2020 até janeiro deste ano. Passamos a juros reais positivos há pouco mais de 6 meses. Apesar disso, a inflação só recuou de maneira mais significativa quando houve desoneração tributária e queda do preço do petróleo, reduzindo o preço dos combustíveis. 

Estrutura 
Passados 6 meses de juros reais positivos, e cada vez maiores, a queda dos preços deve se acentuar. Mas a demora da resposta dos preços dá a entender que a inflação no Brasil tem razões muito mais estruturais do que um equilíbrio monetário circunstancial, sendo assim muito mais difícil de controlar. Razões que vão desde uma baixa produtividade, pouca formação de poupança interna, além de um baixo nível de confiança na condução da política econômica. 
 

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