Itália (Reuters/ Guglielmo Mangiapane)
Neste domingo aconteceram eleições na Itália para eleger um novo congresso e formar um novo governo. A Itália é uma república parlamentarista e após a posse dos novos deputados e senadores eleitos, estes devem indicar um primeiro-ministro apoiado pela maioria no congresso. Este primeiro-ministro, por sua vez, escolherá os ministros que formarão o poder executivo.
Resultados
O resultado final foi bem menos dividido do que em anos anteriores. A coalizão de centro-direita ficou com 44% dos votos válidos e a coalizão de centro-esquerda obteve 26%. Um partido independente ficou com 15%, a coalizão de centro (a "terceira via" italiana) obteve 8% e o restante ficou pulverizado em partidos nanicos, que sequer devem conseguir cadeiras no congresso.
FRASE
“A crise inclina o país para a direita, prolongando a temporada do populismo."
Ezio Mauro, jornalista italiano
Fratelli d'Italia
Com os resultados da eleição, haverá a formação de um governo de "centro-direita" na Itália. Na verdade, muito mais para a direita do que para o centro. O partido que teve o maior número de votos, Fratelli d'Italia (que obteve 26% dos votos), é um partido do movimento nacionalista italiano e que carrega vários elementos e símbolos do fascismo.
Meloni
Sua líder, Giorgia Meloni, tem todas as chances de ser tornar a primeira-ministra italiana, mas a indicação final depende das negociações que ocorrerão no congresso recém-eleito. Ela possui um discurso contra imigração, contra o programa de renda básica que existe no país e contra o sistema de tributação progressiva, almejando substitui-lo por uma alíquota única para todos, independentemente do nível de renda.
União Europeia
Além disso, o partido dela se alinha ao pensamento eurocético. Como todo movimento nacionalista, acredita que a União Europeia traz mais amarras ao Estado italiano do que benefícios. Mas essa parte do discurso foi suavizada e recentemente Meloni tem dado declarações de que o apoio da União Europeia é importante para a Itália.
Ascensão
A vitória dos Fratelli d'Italia deve-se especialmente a dois motivos. O primeiro é a aposta na novidade. O partido, apesar de carregar algumas ideias muito envelhecidas, nunca havia conseguido mais de 5% dos votos válidos em uma eleição. São neófitos no poder. Os Fratelli d'Italia foram o único partido de oposição ao atual governo italiano. Contribuiu também o sentimento de desencanto com a política, pois menos de dois terços dos eleitores italianos compareceu às urnas.
Desafios
A Itália tem vários desafios pela frente. A inflação no país está em 8,4% ao ano e os efeitos da crise energética mal foram absorvidos nos preços gerais ainda. O custo da energia elétrica dobrou e o do gás natural triplicou, afetando famílias e empresas. Além disso, o país cresce pouco economicamente e a renda per capita é praticamente a mesma de 20 anos atrás.
Desafios 2
A Itália tem um endividamento enorme. A dívida pública corresponde a 150% do PIB (a do Brasil está em 80%), o que torna a condução de qualquer política pública muito difícil, além de ameaçar a própria estabilidade econômica do país, que dificilmente seria mantida sem a UE. Outro problema é demográfico. A população italiana tem encolhido desde 2014, especialmente a população em idade economicamente ativa, colocando pressão sobre o serviço social do país.
Recessão
Para completar o quadro, a Europa está passando por um período econômico particularmente difícil, com elevação no custo de vida, incertezas sobre o fornecimento de energia e uma possível recessão a caminho, com o Banco Central Europeu elevando as taxas de juros para combater a inflação. Certamente não será fácil conduzir a situação.
É a Economia
Com tantos desafios pela frente, é possível que o novo governo italiano, que sequer foi formado ainda, tenha pouco tempo de vida. Nos últimos 70 anos, a Itália teve 60 governos diferentes, o que dá uma média de duração de um ano e dois meses para cada governo. Como sempre, a palavra final será dada pelo desempenho econômico.