XEQUE-MATE ECONOMIA / POR ESTÉFANO BARIONI

Itália

Estéfano Barioni
28/09/2022 às 14:02.
Atualizado em 28/09/2022 às 14:02
Itália (Reuters/ Guglielmo Mangiapane)

Itália (Reuters/ Guglielmo Mangiapane)

Neste domingo aconteceram eleições na Itália para eleger um novo congresso e formar um novo governo. A Itália é uma república parlamentarista e após a posse dos novos deputados e senadores eleitos, estes devem indicar um primeiro-ministro apoiado pela maioria no congresso. Este primeiro-ministro, por sua vez, escolherá os ministros que formarão o poder executivo. 

Resultados

O resultado final foi bem menos dividido do que em anos anteriores. A coalizão de centro-direita ficou com 44% dos votos válidos e a coalizão de centro-esquerda obteve 26%. Um partido independente ficou com 15%, a coalizão de centro (a "terceira via" italiana) obteve 8% e o restante ficou pulverizado em partidos nanicos, que sequer devem conseguir cadeiras no congresso.

FRASE

“A crise inclina o país para a direita, prolongando a temporada do populismo."

Ezio Mauro, jornalista italiano

Fratelli d'Italia

Com os resultados da eleição, haverá a formação de um governo de "centro-direita" na Itália. Na verdade, muito mais para a direita do que para o centro. O partido que teve o maior número de votos, Fratelli d'Italia (que obteve 26% dos votos), é um partido do movimento nacionalista italiano e que carrega vários elementos e símbolos do fascismo. 

Meloni

Sua líder, Giorgia Meloni, tem todas as chances de ser tornar a primeira-ministra italiana, mas a indicação final depende das negociações que ocorrerão no congresso recém-eleito. Ela possui um discurso contra imigração, contra o programa de renda básica que existe no país e contra o sistema de tributação progressiva, almejando substitui-lo por uma alíquota única para todos, independentemente do nível de renda. 

União Europeia

Além disso, o partido dela se alinha ao pensamento eurocético. Como todo movimento nacionalista, acredita que a União Europeia traz mais amarras ao Estado italiano do que benefícios. Mas essa parte do discurso foi suavizada e recentemente Meloni tem dado declarações de que o apoio da União Europeia é importante para a Itália. 

Ascensão

A vitória dos Fratelli d'Italia deve-se especialmente a dois motivos. O primeiro é a aposta na novidade. O partido, apesar de carregar algumas ideias muito envelhecidas, nunca havia conseguido mais de 5% dos votos válidos em uma eleição. São neófitos no poder. Os Fratelli d'Italia foram o único partido de oposição ao atual governo italiano. Contribuiu também o sentimento de desencanto com a política, pois menos de dois terços dos eleitores italianos compareceu às urnas. 

Desafios

A Itália tem vários desafios pela frente. A inflação no país está em 8,4% ao ano e os efeitos da crise energética mal foram absorvidos nos preços gerais ainda. O custo da energia elétrica dobrou e o do gás natural triplicou, afetando famílias e empresas. Além disso, o país cresce pouco economicamente e a renda per capita é praticamente a mesma de 20 anos atrás.

Desafios 2

A Itália tem um endividamento enorme. A dívida pública corresponde a 150% do PIB (a do Brasil está em 80%), o que torna a condução de qualquer política pública muito difícil, além de ameaçar a própria estabilidade econômica do país, que dificilmente seria mantida sem a UE. Outro problema é demográfico. A população italiana tem encolhido desde 2014, especialmente a população em idade economicamente ativa, colocando pressão sobre o serviço social do país. 

Recessão 

Para completar o quadro, a Europa está passando por um período econômico particularmente difícil, com elevação no custo de vida, incertezas sobre o fornecimento de energia e uma possível recessão a caminho, com o Banco Central Europeu elevando as taxas de juros para combater a inflação. Certamente não será fácil conduzir a situação.

É a Economia

Com tantos desafios pela frente, é possível que o novo governo italiano, que sequer foi formado ainda, tenha pouco tempo de vida. Nos últimos 70 anos, a Itália teve 60 governos diferentes, o que dá uma média de duração de um ano e dois meses para cada governo. Como sempre, a palavra final será dada pelo desempenho econômico. 

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por