Aumentos da batata inglesa, do leite longa vida, do arroz e do tomate puxaram alta do grupo Alimentação e Bebidas (Helena Pontes/Agência IBGE Notícias)
O IPCA-15 do mês de junho acaba de ser divulgado pelo IBGE, revelando uma variação média de +0,39% dos preços ao consumidor em relação ao mês anterior. É uma variação menor do que a registrada em maio, quando os preços médios tiveram alta de +0,44%. Por outro lado, no acumulado dos últimos 12 meses, o IPCA-15 registra aceleração saindo de +3,70% para +4,06% ao ano. Em junho do ano passado, o IPCA-15 havia ficado quase estável, aos +0,04%.
Inflação Prévia
O IPCA-15 - que pode ser entendido como uma prévia do IPCA, pois é calculado e divulgado da mesma forma que este, mas em um período que antecede o IPCA em quinze dias confirma o comportamento previsto para a inflação ao consumidor, acelerando em sua medição acumulada. Com os meses anteriores em que a inflação foi mais baixa saindo da base de cálculo, o valor acumulado do IPCA-15 vai acelerando.
a frase
"Para realizar grandes coisas, duas coisas são necessárias: um plano e pouco tempo disponível."
Leonard Bernstein, compositor americano
Inflação do Ano
No acumulado dos primeiros seis meses de 2024, o IPCA-15 já alcança 2,52%. Se o segundo semestre fosse igual ao primeiro semestre que se encerra agora, isso faria com que a inflação fechasse o ano acima do teto da meta, aos 5,10%. Embora não se acredite que isso irá acontecer, pois janeiro e fevereiro tiveram inflações altas que não devem se repetir nos segundo semestre, o comportamento de alta no acumulado existe e também influenciará o IPCA.
Variações
Dos nove grupos que compõem o IPCA-15, seis registraram aumentos de preços, dois grupos tiveram uma quase estabilidade (Educação e Artigos de Residência) e apenas um grupo apresentou recuo (Transportes). As maiores altas vieram dos grupos de Alimentação e Bebidas e de Habitação. No acumulado dos últimos doze meses, as maiores altas ocorreram nos grupos de Educação (alta de +6,92%) e de Saúde e Cuidados Pessoais (alta de +6,04%.
Habitação
No grupo de Habitação, que teve alta de +0,63% em junho, a variação de preços foi influenciada pelos reajustes das taxas de água e esgoto (+2,29%) registrados em diversas capitais, como São Paulo, Brasília e Curitiba. A energia elétrica residencial (+0,79%) também foi alvo de reajustes tarifários em capitais do Nordeste e em Belo Horizonte.
Alimentos
O grupo de Alimentação e Bebidas (+0,98%) foi o grande responsável pela inflação de junho, com a alimentação no domicílio apresentando uma alta de +1,13% no mês. Os itens que apresentaram as maiores altas foram a batata inglesa (+24,2%), o leite longa vida (+8,8%), o tomate (+6,3%) e o arroz (+4,2%). Vale lembrar que o Rio Grande do Sul é responsável por cerca de 70% da produção nacional de arroz.
Rio Grande do Sul
Ainda existe muita incerteza em relação aos impactos econômicos da tragédia no Rio Grande do Sul. Esses impactos estão ocorrendo tanto em relação à oferta de alimentos, que será prejudicada, como também em relação à menor atividade econômica regional e diminuição do estoque de capital, uma vez que a infraestrutura e a estrutura produtiva que se deteriorou nas enchentes terá que ser reposta.
Dólar
Outro ponto que deve continuar pressionando a inflação é a evolução do Dólar. Nos cenários traçados pelo Copom para a inflação, em que o IPCA termina o ano aos 4,0%, uma das premissas é a cotação do Dólar a R$ 5,30. No mesmo dia em que foi divulgado o IPCA-15, a cotação do Dólar chegou a superar R$ 5,51. A alta da moeda americana afeta o preço de importantes commodities e insumos que o Brasil importa (como combustíveis, fertilizantes, a eletricidade de Itaipu, etc.).
Juros
Com tudo isso, fica claro que as condições econômicas se tornaram mais delicadas, reforçando a adoção de uma postura mais conservadora por parte do Copom. É praticamente certo que não teremos nenhuma redução na taxa de juros no segundo semestre e, a não ser que outros eventos sigam pressionando ainda mais a inflação, a taxa Selic deve seguir aos 10,5% ao ano até o final de dezembro.