Mercado financeiro (Divulgação)
A recepção do mercado financeiro ao início do novo governo não foi nada boa. No primeiro dia de mandato, o Ibovespa caiu mais de 3%, com as ações da Petrobras recuando quase 7%. Outra perda grande veio com Banco do Brasil, cujas ações recuaram -4,2%. Além disso, o Dólar subiu 1,46% frente ao Real no primeiro pregão do ano. O Euro também subiu e se valorizou 1,2% frente ao Real. Não foi o melhor dos começos.
Volatilidade
Apesar do expressivo resultado negativo, é preciso dar um desconto e reconhecer que o primeiro dia útil do ano teve um volume baixo de negócios, o que é normal por causa das férias de Réveillon. Quando o volume de negócios é baixo, a volatilidade é naturalmente mais alta, pois existem menos transações sendo feitas e cada uma delas influencia mais o mercado. Assim, volumes baixos de negócios favorecem resultados mais exagerados.
FRASE
“O presidente quer que a nova diretoria das estatais esteja empossada primeiro, para decidir conjuntamente
Fernando Haddad, Ministro da Fazenda
Estatais
No caso das estatais, um dos pontos que mais pesou na desvalorização foi a informação de que os processos de privatização serão interrompidos. A Petrobras já tem a maioria do seu capital na mão de acionistas privados (na maior parte, estrangeiros), mas é o governo brasileiro que detém o controle da empresa e faz a gestão, como se a empresa fosse puramente estatal.
Estatais 2
O abandono completo de um programa de privatização passa a mensagem de que as empresas estatais, especialmente a Petrobras que foi citada diretamente, terão uma gestão mais distante dos princípios de mercado (caso contrário, não haveria problema algum em privatizá-las) e mais orientada a cumprir metas estabelecidas pelo governo. Fica o receio de uma má gestão, beneficiando os interesses do governo em detrimento dos interesses da empresa em si.
Refino
Também foi vinculada a notícia de que a Petrobras voltará a investir na expansão da estrutura de refino de petróleo. Isso pode ser muito bom para o mercado de combustíveis no Brasil e muito bom para a empresa. Mas pode ser muito ruim também. Os acionistas ainda lembram das aventuras desastradas da empresa com os projetos das refinarias de Abreu e Lima e do Comperj, que custaram muito mais do que o orçado e ficaram incompletas, produzindo menos do que o previsto.
Isenção
Também não ajudou no humor do mercado a repercussão da renovação da isenção de tributos sobre os combustíveis. A gasolina e o etanol tiveram a isenção do PIS/COFINS e da CIDE renovada por 2 meses (portanto, válida até 28 de fevereiro) enquanto o óleo diesel e o GLP terão isenção até o fim do ano. Essa extensão das isenções prejudica o equilíbrio fiscal do governo, que já é crítico.
Resultado Fiscal
O atual orçamento federal já prevê um resultado fiscal negativo de R$ 220 bilhões em 2023. Com o aumento dos gastos públicos e a concessão de isenções ou subsídios, o resultado fiscal fica mais comprometido e dívida pública aumenta, avançando em uma trajetória de insustentabilidade. O setor privado perde a confiança na economia e deixa de investir, resultando em recessão.
Desencontro
Também ficou ruim o desencontro entre o novo Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente Lula. Haddad disse que a isenção não deveria ser renovada e prometeu apresentar uma política de âncora fiscal realista e responsável. Mas nada foi apresentado ainda e logo de cara o ministro foi contrariado, uma vez que se decidiu por renovar a isenção dos tributos, com a justificativa de adiar a retirada para depois da posse da nova direção das estatais.
Desencontro 2
A falta de unidade pode revelar problemas de gestão na economia do país. Obviamente a gestão nova está apenas começando, mas se não há uma unidade na tomada de decisão, isso pode ser um sinal de que as escolhas são feitas conforme os interesses políticos de circunstância e não segundo critérios técnicos que levam em conta as necessidades econômicas de longo prazo do país.