Inflação (Marcello Casal Jr/ Agência Brasil)
As preocupações com a alta dos preços voltaram ao centro das atenções. Não que a inflação já tivesse recuado a níveis considerados mais baixos. Deve-se lembrar que, apesar dos recuos observados nos últimos meses, o IPCA acumulado nos últimos 12 meses continua acima do teto da meta. Na verdade, esse teto foi rompido pelo IPCA em março de 2021 e desde então a inflação não mais voltou para dentro da meta.
Aumento
Agora, a preocupação é a de que a inflação volte a subir por alguns meses e esse temor é motivado por dois fatores. O primeiro é o retorno dos impostos sobre o etanol e a gasolina que, salvo alguma mudança de última hora, devem voltar a ser cobrados a partir de amanhã, dia 1° de março. O outro fator é a sinalização do IPCA-15, que teve alta maior do que o esperado e registrou a maior variação mensal dos últimos 10 meses.
FRASE
"O aumento do custo de vida é um fator que contribui para a desigualdade social e o empobrecimento da classe média
Thomas Piketty, economista francês
Combustíveis
O retorno da cobrança dos impostos federais (CIDE, PIS e COFINS) deve causar um aumento ao consumidor de R$ 0,68/litro de gasolina e de R$ 0,24/litro de etanol, segundo estimativas da Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis. Assim, o consumidor final poderá sentir um aumento de até 15% no preço da gasolina. A cobrança desses tributos está suspensa desde julho do ano passado. No caso do diesel e do GNV, a suspensão será mantida até o fim do ano.
Queda-de-braço
Para evitar esse aumento no preço da gasolina e do etanol e seus impactos sobre a inflação que ainda permanece elevada, a ala política do governo defende o adiamento da volta dos impostos. Já a ala econômica, defende o retorno integral da cobrança, para não comprometer ainda mais o orçamento federal. Nessa queda-de-braço, uma solução de meio termo pode surgir, com o retorno parcial dos tributos.
IPCA-15
Do outro lado, na semana passada tivemos a divulgação do IPCA-15 de fevereiro, que registrou variação de +0,76% em relação a janeiro. O valor é menor do que o que havia sido registrado em fevereiro de 2022, quando o índice teve alta de +0,99%, e por isso o acumulado em 12 meses acabou tendo uma pequena queda, chegando a 5,63% ao ano. No entanto, a elevação mensal capturada pelo IPCA-15 foi maior do que o esperado.
Prévia
O IPCA-15 é tido como uma prévia do IPCA, pois os dois índices são calculados segundo a mesma metodologia. A diferença é que o IPCA-15 tem uma abrangência geográfica menor, com preços sendo pesquisados em um número menor de capitais do que o IPCA, mas como as grandes capitais estão nos dois índices e são elas que tem maior peso nos resultados, os resultados são muito parecidos. O IPCA-15 é divulgado com 15 dias de antecedência em relação ao IPCA.
Educação
O fator que teve o maior peso no IPCA-15 de fevereiro foi o item Educação, com variação de +6,41% em relação a janeiro. O aumento foi causado pelos reajustes nas mensalidades escolares que acontecem nessa época do ano. O ensino médio teve aumentos em torno de 10,3% em suas mensalidades, enquanto o ensino fundamental e a pré-escola tiveram aumentos médios de 10% e 9,6%, respectivamente. Cursos técnicos e superiores tiveram aumento menores, na faixa de 5%.
Educação 2
Os aumentos nos custos da educação acontecem todos os anos e impactam os índices de inflação. No caso do IPCA-15 e do IPCA, esses aumentos se concentram no índice de fevereiro. O problema é que, no ano passado, o item Educação teve variação menor, registrando alta de +5,64%. Com o avanço maior, o IPCA também ficará mais pressionado neste item.
Taxa de juros
A combinação da volta dos impostos sobre os combustíveis e dos reajustes das mensalidades escolares causará um impacto que pode causar o aumento da inflação acumulada. Nesse cenário, em que o índice de inflação volta a subir, toda a discussão sobre a taxa de juros torna-se estéril, pois é difícil imaginar uma eventual redução de juros com a inflação subindo.