XEQUE-MATE ECONOMIA

Inflação

Esféfano Barioni
07/02/2023 às 10:11.
Atualizado em 07/02/2023 às 10:11
O aumento da inflação em todo o mundo se deve, em grande parte, devido à alta no preço da energia, principalmente do petróleo e do gás natural (Divulgação)

O aumento da inflação em todo o mundo se deve, em grande parte, devido à alta no preço da energia, principalmente do petróleo e do gás natural (Divulgação)

Depois da reabertura da economia, a inflação no Brasil voltou a subir com força, chegando ao seu ponto mais elevado em abril de 2022. Naquele mês o IPCA alcançou 12,13% ao ano, o nível mais alto dos últimos 20 anos. Contribuíram para a alta dos preços os estímulos fiscais utilizados para o enfrentamento da pandemia e especialmente os choques de oferta criados pelos desarranjos das cadeias de suprimento globais. Esse foi um fenômeno que ocorreu em todo o mundo. 

Banco Central

Em resposta a este fenômeno, o Banco Central iniciou, ainda em março de 2021, um processo de alta de juros. Em apenas 18 meses, a taxa Selic foi elevada de 2% para 13,75% ao ano, nível que tem sido mantido e que deve permanecer por um tempo razoável. O último comunicado do Comitê de Política Monetária do BC indicou que o Copom trabalha com cenários alternativos em que não há nenhuma redução de juros ao longo deste ano. 

FRASE

"Então ele quer chegar à inflação padrão europeu? Não. Nós temos que chegar à inflação padrão Brasil"

Lula, presidente da República

Lula
A atuação do Banco Central tem sido alvo de críticas por parte do presidente Lula, que por mais de uma vez atacou a autonomia do BC. Segundo o presidente, o BC tem utilizado um rigor excessivo e injustificável na condução da política monetária. Um rigor que não tem dado os resultados esperados e que só prejudica o crescimento econômico. O presidente afirmou que a meta de inflação não deve seguir um "padrão europeu", mas sim um "padrão Brasil".

Obstáculo
Juros altos são de fato um obstáculo ao crescimento econômico. Com taxas elevadas de juros, o crédito torna-se mais caro, diminuindo o consumo. As empresas vendem menos e ficam menos incentivadas a investir. Além disso, o custo de oportunidade das empresas também sobe. Com chances de ter elevados rendimentos financeiros sem risco, um número menor de projetos é executado, pois estes projetos sempre envolvem risco. 

Um pouco
A ideia que o presidente quer passar com uma inflação "padrão Brasil" é a de que um pouco de inflação pode ser algo bom. E isso é verdade. É por esse exato motivo que o BC coloca um nível mínimo para a meta de inflação. Um pouco de inflação estimula o consumo no curto prazo, pois os consumidores sabem que os preços estarão mais caros no futuro. Também por isso fica incentivado o investimento no aumento da produção. 

Não muito
Por outro lado, a inflação elevada é muito prejudicial. Além de corroer o poder de compra da população, diminuindo a quantidade de bens e serviços que podem ser adquiridos, quando os preços sobem rápida e continuamente, as pessoas perdem a referência de valor e começam a tomar decisões econômicas equivocadas. A alocação de recursos começa a se tornar ineficiente, sabotando o potencial de crescimento. 

Brasil vs. Europa
Atualmente, a meta de inflação do BC estabelece um valor máximo de 4,75% e um valor mínimo de 1,75% ao ano. A meta do Banco Central Europeu é manter uma inflação de 2% ao ano na zona do Euro. Portanto, a nossa já é uma meta "padrão-Brasil" que tolera uma inflação maior do que o dobro da inflação europeia, o que contribuiria para acomodar um ritmo de crescimento maior. 

Brasil vs. Europa 2
Nos últimos 25 anos, o Brasil teve uma inflação média em torno de 6% ao ano. Na zona do Euro, a inflação média do período foi de 3% ao ano. Comparando-se a evolução do PIB per capita em dólares constantes (já descontando a inflação), o Brasil teve um crescimento de 1,06% ao ano, enquanto a Europa teve um crescimento de 1,10% ao ano. Obviamente, inflação um pouco mais alta pode ajudar, mas não fabrica crescimento. 

Construir 
É preciso muito mais para crescer. O país precisa de um ambiente econômico favorável, que gere confiança e permita a realização de investimentos. A manutenção do diálogo, a conciliação de diversos pontos de vista e a construção de pontes entre diferentes perspectivas contribuem para esse criar esse ambiente favorável. Fortalecer as instituições também favorece. É preciso conciliar e construir.

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