Guerra

A guerra na Ucrânia já completou mais de três meses e o prolongamento do conflito tem provocado consequências em todo o mundo. Além da crise humanitária causada pelas mortes, destruição e pelo grande número de refugiados, o conflito também tem causado ou acentuado perturbações econômicas significativas. Uma delas está vinculada ao setor automobilístico. 

Cadeias de Produção

É claro que o setor automobilístico já estava sofrendo grandes perturbações antes do início do conflito. A pandemia provocou importantes quebras nas cadeias globais de valor, afetando a fabricação e a logística internacional de autopeças e de componentes eletrônicos, como os microchips em especial. Com a falta desses materiais, a produção de automóveis despencou. 

FRASE

"O cliente nem sempre tem razão."
Enzo Ferrari, fundador da Scuderia Ferrari

Cadeias de Produção 2

Muito antes do início da guerra, os produtos industriais de vários tipos estavam sob um grande estresse de demanda, puxados pela retomada da economia mundial. Os preços das commodities já estavam em níveis bastante elevados, alguns em suas máximas históricas. Os custos elevados e a falta de materiais causaram a retração da oferta, fazendo o preço dos carros novos subir muito. Isso afetou inclusive o preço dos automóveis usados, que também disparou. 

Metais

Então veio a guerra e a situação dos preços das commodities se agravou, especialmente (mas não somente) para aquelas diretamente exportadas por Rússia e Ucrânia. É o caso dos metais, como aço, níquel e paládio, cuja oferta mundial tem grande participação desses dois países. No caso do paládio, Rússia e Ucrânia são responsáveis por quase 50% de toda a oferta mundial. 

Metais 2

Os metais são matérias primas fundamentais para toda a indústria de máquinas e equipamentos. E no caso da indústria automobilística não é diferente. Mantendo-se as incertezas sobre o fornecimento e os preços dos insumos nas alturas, podemos estar próximos de um grande ponto de ruptura no mercado de venda de automóveis.

Aumentos

Somente entre o primeiro bimestre deste ano e o final de abril, em um período de menos de três meses, o preço do níquel teve uma alta de 47%, o preço do aço subiu 30%, o alumínio teve alta de 10% e o preço do cobre registrou uma elevação de 4%. São aumentos expressivos uma vez que esses quatro metais correspondem a cerca de 70% do peso de um automóvel. 

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Os aumentos dos preços dos metais podem causar uma elevação significativa dos custos de produção dos automóveis, chegando a aumentos entre 15 a 20%. Seria muito difícil para a indústria conseguir absorver essa magnitude de aumentos de custos. Por outro lado, os compradores de automóveis, com o orçamento já comprometido pela alta da inflação, também terão dificuldades em conseguir pagar mais por um automóvel. 

Carros Elétricos

Nem os carros elétricos, livres dos aumentos da gasolina, estão a salvo. No caso dos carros elétricos, o impacto da alta dos preços dos metais deve ser ainda maior, pois estes precisam de quantidades significativamente maiores de níquel, por conta das baterias. Para os carros elétricos, mantendo-se os aumentos globais dos preços dos metais, o aumento nos custos de produção pode chegar a 26%.

Recuos

Por outro lado, no mês de maio os preços dos metais têm recuado, embora ainda estejam longe de voltar aos patamares do início de janeiro. No entanto, ainda é cedo para ter certeza se os preços caíram de maneira temporária, ou se os preços estão se reajustando para novos patamares menos estressados, pela expectativa de um menor crescimento econômico mundial. 

Equilíbrio

Ainda é cedo para determinar se os recuos do mês de maio são um movimento de curto prazo que será rapidamente revertido, ou se os preços dos metais encontrarão um novo equilíbrio em um patamar mais baixo. De qualquer forma, fabricantes de automóveis e seus consumidores também deverão encontrar um novo equilíbrio no mercado automobilístico.