XEQUE-MATE ECONOMIA / POR ESTÉFANO BARIONI

Gorbachev

Estéfano Barioni
04/09/2022 às 10:41.
Atualizado em 04/09/2022 às 10:41
"Mikhail Sergeevich Gorbachev morreu esta noite após uma doença grave e prolongada", disse o Hospital Clínico Central, segundo a agência RIA Novosti (Alexander Zemlianichenko / AP)

"Mikhail Sergeevich Gorbachev morreu esta noite após uma doença grave e prolongada", disse o Hospital Clínico Central, segundo a agência RIA Novosti (Alexander Zemlianichenko / AP)

Mikhail Gorbachev, morto nesta semana aos 91 anos, foi o último líder da União Soviética, exercendo o cargo até dezembro de 1991, quando a URSS se dissolveu. É considerado um dos principais responsáveis pelo fim da Guerra Fria devido às reformas que implementou, promovendo a abertura e a integração do estado soviético à política e à economia mundial. 

Reformas

Gorbachev foi Secretário-Geral do Partido Comunista de 1985 até 1991, exercendo o poder sobre o estado soviético. Sob sua influência e protagonismo, diversas reformas foram realizadas que resultaram em uma cadeia de eventos que culminaram com a reunificação da Alemanha e a dissolução da União Soviética. As reformas foram tão importantes que até mesmo seus nomes no idioma russo se tornaram conhecidos no mundo todo: Perestroika e Glasnost. 

FRASE

“O mercado não é uma invenção do capitalismo. Ele existe há séculos. É uma invenção da civilização."

Mikhail Gorbachev, último líder da URSS

Perestroika

Perestroika, que significa "reconstrução" em russo, foi uma política voltada para introduzir reformas que viriam a reorganizar a economia e a estrutura política e social do país. No campo econômico, a Perestroika procurava descentralizar a economia, dando maior liberdade para as empresas russas e modernizando a forma de gestão, que passaria a seguir critérios mais técnicos e econômicos e menos critérios administrativos e burocráticos. 

Modernização

Na União Soviética, era o estado que centralizava todas as decisões econômicas. O estado detinha todos os meios de produção e era quem decidia o que seria produzido, onde e em quais quantidades. Sem competição, havia pouco incentivo para buscar melhorias e as escolhas de gestão davam pouca importância aos critérios técnico-econômicos. A Perestroika era uma política para modernizar a economia, aproximando-a de uma economia livre de mercado. 

Reforma Política

A Perestroika também abrangia uma série de reformas no sistema político soviético, que aos poucos foram sendo instituídas. Entre essas reformas estava previsto um redimensionamento da atuação do estado e redução de sua estrutura, o fim do monopólio ideológico do partido comunista permitindo o debate de ideias, e a instituição de um congresso de deputados aberto a candidatos externos ao partido comunista. 

Glasnost

A Glasnost, que em russo significa literalmente "publicidade", mas que pode ser melhor traduzida por "transparência", era uma política direcionada a tornar a gestão do governo e todas as decisões políticas mais transparentes e, portanto, sujeitas a críticas e discussões. A Glasnost foi promovida especialmente depois de Chernobyl, em 1986, quando ficou evidente que o controle da circulação de informações potencializou as consequências negativas do acidente nuclear. 

União Soviética

Com menor intervenção do estado, maior liberdade econômica para as empresas nos critérios de gestão, maior liberdade política e transparência nas decisões do governo, as reformas de Gorbachev colocaram em movimento as engrenagens que levariam a União Soviética ao seu fim. Gorbachev provavelmente não desejava o fim da União Soviética, mas certamente entendia que ela não poderia continuar existindo da mesma forma que era.

China

Havia outros caminhos a seguir. A China comunista, por exemplo, adotou uma Perestroika parcial, sem Glasnost. Abriu sua economia, mas não permitiu liberdades políticas - o atual presidente chinês tem cargo vitalício - e muito menos adotou transparência nas decisões de governo. Gorbachev, por outro lado, apostou nas reformas e na integração. 

Legado

Poucos homens tiveram tanto impacto no mundo como Gorbachev. O seu legado é a defesa da liberdade, da integração, da paz e até mesmo da democracia. Não à toa venceu o Nobel da Paz em 1990. Hoje a Rússia e grande parte do mundo andam na contramão do legado de Gorbachev, com nações cada vez mais isoladas e governos cada vez menos transparentes, privilegiando sempre critérios políticos em detrimento dos critérios técnicos.

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