Gás na Europa (ANNEGRET HILSE)
Um dos aspectos mais complicadas envolvendo a guerra na Ucrânia é a questão do gás. A União Europeia tem uma grande dependência energética da Rússia. No ano passado, o gás natural importado da Rússia abasteceu pouco mais de 40% de todo o consumo do continente europeu, tanto para geração de eletricidade, consumo industrial e também para aquecimento residencial.
Sanções
Em retaliação contra a invasão da Ucrânia, Europa e Estados Unidos estabeleceram sanções econômicas contra os produtos e empresas russas. Essas ações tinham como objetivo castigar economicamente a Rússia, deixando o país sem recursos para financiar a guerra. Mas as sanções estabelecidas não incidiam sobre as exportações russas de petróleo e gás.
FRASE
“No custo do gás, continuamos a trabalhar em respostas adaptadas a um mercado global."
Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia
Fornecimento
Embora as sanções não tenham causado o rápido efeito esperado sobre a economia russa, projeta-se que o PIB russo deve cair em torno de 10% este ano. Recentemente, a Rússia diminuiu pela metade o envio de gás para a Europa, alegando motivos técnicos, e agora ameaça cortar totalmente o fornecimento se as sanções econômicas não forem suspensas.
Preços
Reagindo à queda no fornecimento, os preços do gás natural dispararam no mercado europeu, chegando a ter um aumento de 30% em um único dia. Para se ter uma ideia, os combustíveis no Brasil subiram muito quando o preço do petróleo atingiu US$ 120/barril. Em termos comparativos, o preço do gás natural na Europa atingiu valores equivalentes a um barril de petróleo custando cerca de US$ 400.
Inflação
Com esses preços, todo o setor econômico europeu está ameaçado. Grande parte da geração de eletricidade na Europa é feita a partir da queima do gás natural. O combustível também é um importante insumo na indústria e o seu aumento terá reflexo nos preços, pressionando ainda mais a inflação que já é recorde no continente desde a adoção do Euro como moeda comum.
Brasil
No Brasil os efeitos da crise na União Europeia podem chegar de maneira indireta. Em um mundo globalizado, onde a circulação de mercadorias e capitais é intensa, nenhuma grande crise fica contida em uma só região. A Europa está buscando novos fornecedores de gás e isso afetará o mercado mundial de GNL (gás natural liquefeito) que o Brasil utiliza para acionar parte das usinas termelétricas.
Capitais
Além disso, se o Banco Central Europeu for forçado a promover aumentos mais intensos na taxa de juros para combater a inflação no continente, provocará maior atração de capitais para os títulos de renda fixa europeus. Essa maior atração pode alterar o equilíbrio de fluxos de capitais no Brasil, causando uma certa fuga de recursos.
Aprendizado
Mas além dos efeitos secundários, essa crise energética pode também resultar em aprendizado para o Brasil. Os Ministros de Energia dos países europeus estão se reunindo para buscar soluções para a crise. O dilema é que a resposta mais fácil para o problema, que é subsidiar o preço do gás natural, é também a que gera os piores resultados.
Limite
Uma das ideias em debate é impor um limite ao preço do gás para os consumidores e o governo bancaria a diferença, através de endividamento público. Mas se o limite estabelecido for baixo demais, isso acabará incentivando o consumo de gás e de eletricidade. O consumo continuará em níveis normais e rombo que o governo terá que assumir será cada vez maior. No fim, quem pagará a conta será toda a sociedade e não os consumidores de acordo com a quantidade consumida.
Conta Amarga
Além disso, um subsídio desse tipo iria atrasar o processo de transição energética da Europa, que continuaria dependendo do fornecimento de gás ao invés de buscar novas fontes de energia. No passado, o Brasil já tentou manter preços artificialmente baixos na eletricidade e pagamos um preço muito mais caro por isso depois, em termos de oferta e de valores. Subsídios sempre deixam contas amargas para o futuro.