XEQUE-MATE DA ECONOMIA

Fusão de Aéreas

Estéfano Barioni
26/03/2024 às 10:06.
Atualizado em 26/03/2024 às 10:06

Avião (Tomaz Silva/ Agência Brasil)

Rumores sobre uma possível fusão entre as grandes empresas do setor aéreo brasileiro - Gol, Azul e Latam - se avolumaram na semana passada, reacendendo o debate sobre o futuro da aviação comercial no Brasil. Embora a ideia de consolidar grandes empresas aéreas em um único conglomerado possa parecer uma solução atrativa para seus problemas financeiros, é fundamental ponderar as implicações dessa estratégia para o sistema aéreo do país.

Efeitos

É preciso reconhecer que, do ponto de vista da saúde do sistema aéreo, uma fusão dessa magnitude poderia ter efeitos adversos significativos. A possibilidade de criar um monopólio no espaço aéreo brasileiro levanta sérias questões sobre a qualidade do serviço prestado aos consumidores e até mesmo sobre a segurança operacional desse serviço. Além disso, as questões financeiras podem permanecer não resolvidas.

FRASE

"A concorrência é o gume afiado dos negócios, sempre a cortar nos custos

Henry Ford, empreendedor norte-americano

Ineficiência
A experiência internacional nos mostra que mercados de aviação altamente concentrados tendem a resultar em menor inovação, piora na qualidade do serviço e preços mais altos para os passageiros. A elevada concentração de mercado frequentemente leva a uma situação de aparente conforto que acaba provocando queda na eficiência da empresa, já que esta não tem estímulos suficientes para ser competitiva em termos de custos.

Exemplos
Existem vários exemplos de empresas atuando em mercados altamente concentrados, mas que foram incapazes de transformar essa posição privilegiada em lucratividade. Exemplos como a Aerolineas Argentinas, que foi privatizada na década de 90 e teve que ser reestatizada em 2008 para evitar a falência, e a Alitalia, que lutou contra problemas financeiros durante anos, passou por várias tentativas de recuperação e fusão, e acabou encerrando as operações em outubro de 2021.

Crise
Nas especulações sobre uma fusão tripla no Brasil, uma manobra supostamente orquestrada pelos altos escalões do governo, existe a tensão entre a necessidade de sustentabilidade financeira das empresas aéreas e a manutenção da concorrência do setor. Rumores indicam que o governo parece apostar na consolidação como solução para a crise que assola o setor desde a pandemia de Covid-19.

Crise 2
Supondo que as especulações sejam reais e que o governo esteja de fato costurando uma fusão tripla como solução, isto sugere uma intervenção massiva que vai desde o aporte financeiro pelo BNDES até a garantia de uma cadeira no conselho administrativo da nova mega companhia aérea. No entanto, soluções de curto prazo, especialmente flertando com a criação de um monopólio, podem ter consequências indesejáveis a longo prazo.

Urgência
A situação financeira precária da Gol, exacerbada por uma dívida líquida/Ebitda alarmantemente alta, ilustra a urgência de uma solução. Entretanto, é imperativo questionar se a consolidação proposta é a melhor via. Históricos de má gestão, dívidas exorbitantes e disputas acirradas entre as companhias sugerem que os problemas do setor vão além da simples falta de capital ou de uma estrutura de mercado fragmentada.

Saúde
A operação de uma companhia aérea monopolista traz consigo enormes desafios de segurança operacional e gestão de qualidade de serviço. Além disso, contraria frontalmente a política de "céus abertos" implementada pela ANAC, um esforço deliberado para incentivar a concorrência e garantir que o consumidor brasileiro desfrute de serviços aéreos acessíveis e de qualidade.

Concorrência
O princípio de promover a concorrência vai além da proteção ao consumidor; é uma salvaguarda contra a estagnação e a complacência. Mercados competitivos incentivam a inovação, a eficiência operacional e a melhoria contínua dos serviços. É o equilíbrio delicado entre estabilidade financeira e concorrência que garantirá que os céus do Brasil permaneçam um espaço de oportunidades e de qualidade para todos os que dele dependem.

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