EDITORIAL

Estratégias para manter a paz no reino

05/06/2022 às 11:23.
Atualizado em 05/06/2022 às 11:23
Filósofo Jean Jacques Rousseau e Maquiavel (Reprodução)

Filósofo Jean Jacques Rousseau e Maquiavel (Reprodução)

O filósofo Jean Jacques Rousseau (1712-1778) disse: "Maquiavel, fingindo dar lições aos reis, deu-as ele, e grandes, aos povos". Por meio dessa leitura, possibilita à sociedade identificar as estratégias que os príncipes utilizam para se proteger e explorá-la. Primeiro pensador a encarar o mal como realidade política, Maquiavel especula sobre como os governantes devem se portar no exercício do poder. Basicamente, ele faz referência a duas formas de moralidade: a cristã e a política. A primeira dita que, mesmo quando os governantes são feridos no poder, eles devem defender o povo. Por sua vez, a ética política mostra que para ser um bom governante, às vezes, medidas más devem ser tomadas.

Para Maquiavel, os governantes devem usar a crueldade como estratégia de manutenção da ordem e poder. Como exemplo, ele cita a atitude de César Borgia (um príncipe italiano de sua época) que usou uma espada para cortar um de seus homens ao meio. Pela ética cristã, essa atitude é uma barbárie. Por outro lado, quanto à ética política defendida por Maquiavel, foi uma ação necessária para evitar uma guerra civil, que resultaria em milhares de mortes.

O maior dever do príncipe é manter o governo em ordem, mesmo que seja necessário violar as regras de crença, religião e moral. O príncipe não precisa ser leal e religioso, desde que pareça possuir essas qualidades. Na época do filósofo florentino, toda ação maliciosa era exercida pela violência armada. Hoje, o comportamento malicioso se manifesta em sociedades corruptas. Maquiavel é realista. O realismo não é interpretado como conformidade, mas como lógica, para mudar a realidade é preciso primeiro compreendê-la.

Maquiavel é um dos maiores defensores da liberdade porque mostrou ao povo como deve se proteger de governantes corruptos e desleais. Refletindo sobre a imagem do príncipe, fica claro que o verdadeiro príncipe hoje é a sociedade civil, pois no modelo democrático republicano de governo, o coletivo toma as decisões por meio de seus representantes. 

Falando da necessidade de se proteger de situações perigosas, Maquiavel disse que o príncipe precisava de uma fortaleza, que deve ser edificada com a alma de seus súditos, pois as fortificações materiais não podem salvar um príncipe odiado por seu povo. De fato, é de pouca utilidade para um governante esconder-se em um castelo ou cercar-se de milícias armadas, pois não há barreira contra a ira do povo. Melhor aliar-se ao povo do que ofendê-lo e deixá-lo tirar-lhe o poder.

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