XEQUE-MATE ECONOMIA / POR ESTÉFANO BARIONI

Energia na Europa

Estéfano Barioni
25/09/2022 às 17:34.
Atualizado em 25/09/2022 às 17:34
Gás Natural (Agência Petrobras)

Gás Natural (Agência Petrobras)

A Europa está atravessando um período difícil em termos energéticos e econômicos. Com o prolongamento da guerra e após a Ucrânia ter recuperado o controle de algumas localidades no leste do país, a Rússia subiu o tom e tem ameaçado a Europa com cortes no fornecimento de gás natural. Atualmente, o fornecimento está em 10% dos volumes normalmente entregues antes do conflito. 

Demanda

No ano passado, o gás natural fornecido pela Rússia representou 40% de toda a demanda europeia por esse combustível, que é utilizado para geração elétrica, aquecimento e consumo industrial. Com a repentina escassez desse recurso, os preços da energia dispararam no continente. A União Europeia tem buscado alternativas emergenciais para suprir a demanda energética, mas essas alternativas, além de serem mais caras, podem não ser suficientes. 

FRASE

"As fontes de energia de baixo carbono estão gerando enormes receitas que não refletem seus custos de produção."

Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia

Competitividade

Como consequência, tanto o preço do gás natural utilizado para consumo industrial e aquecimento como o preço da eletricidade foram afetados imediatamente. Os valores das contas de energia chegaram a se multiplicar por quatro de um mês para o outro, tirando a competitividade da indústria europeia e, em alguns casos, até inviabilizando totalmente a produção. 

Eletricidade

O mercado de eletricidade na Europa funciona de maneira diferente do que aqui no Brasil. Aqui as usinas de geração que operam no mercado regulado geram eletricidade sob contratos de longo prazo, com preços fixos ajustados pela inflação. Apenas as termelétricas recebem parcelas variáveis de acordo com o custo do combustível. Assim, cada usina recebe um valor diferente pela energia gerada. Quanto menos geração termelétrica, mais barata fica a eletricidade final.

Leilões de Energia 

A expansão do setor elétrico brasileiro é feita através de leilões de energia, em que os futuros empreendimentos disputam contratos de fornecimento pelo menor preço. Os contratos têm período de fornecimento de 30, 20 ou 15 anos, e se iniciam geralmente a partir de cinco ou seis anos da realização do leilão, tempo que serve para a construção da usina.

Leilões de Energia 2

Na Europa, a energia também é contratada através de leilões, mas sem contratos de longo prazo. Os leilões são realizados todos os dias e são válidos apenas para o dia seguinte. São minicontratos de apenas um dia de fornecimento. Nesses minicontratos, todas as usinas são remuneradas pelo custo marginal. Em outras palavras, todas as usinas recebem o mesmo valor pela eletricidade, sempre igual ao custo de geração da usina mais cara. 

Armadilha

Esse mecanismo funcionou muito bem até agora, fornecendo sinais de preços muito rápidos ao mercado e garantindo dinamismo para incentivar as usinas com baixo custo de geração, que nesse sistema teriam sempre as maiores margens de lucro. Mas agora esse mecanismo se tornou uma armadilha, pois as outras fontes não ajudam a reduzir os preços. Todas as usinas, inclusive solares e eólicas, são remuneradas pelo custo de geração a gás natural. 

Euro

O encarecimento generalizado da energia faz com que a atividade econômica se torne mais onerosa. No caso de atividades industriais, a perda de competitividade pode levar à paralisação de setores inteiros. Com menor produção interna, a Europa exportará menos e terá que aumentar importações e isso já está se refletindo no Euro, que tem perdido valor frente a todas as outras moedas. 

Euro 2

Na manhã desta sexta-feira, o Euro já havia rompido a barreira psicológica dos R$ 5,00 e atingiu R$ 4,98 logo nos primeiros minutos do dia. A paridade com o Dólar também foi rompida e a moeda norte-americana já está mais valorizada do que o Euro. A Europa está tentando se reorganizar e rapidamente alterar os mecanismos de contratação de energia, mas não há perspectiva de que a tendência de desvalorização do Euro seja revertida no curto prazo. 

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