Emprego e Inflação (Reprodução)
O economista neozelandês Alban Phillips publicou, em 1958, um artigo onde verificava uma relação inversa entre a taxa de desemprego e a inflação. A partir da análise de dados no Reino Unido, o economista observou que nos períodos em que a inflação era alta, a taxa de desemprego era baixa. Por outro lado, quando a inflação era baixa, a taxa de desemprego era alta. As suas observações foram imortalizadas como “a curva de Phillips” no estudo da macroeconomia.
Curva de Phillips
Longe de ser apenas uma teoria, o mecanismo de contrabalanço entre a taxa de desemprego e a inflação também foi observado em diversos outros países e economias. E continua sendo até hoje. A curva de Phillips utilizada atualmente pelos economistas possui poucas diferenças com a curva desenvolvida em 1958.
FRASE
A sociedade pode se permitir obter uma taxa de inflação pequena ou mesmo zero, desde que esteja disposta a pagar o preço em termos de desemprego”.
Robert Solow, Prêmio Nobel de Economia em 1987
Economia Aquecida
O mecanismo é fácil de compreender. Suponha uma economia fortemente aquecida, com alto nível de atividade produtiva e, portanto, alto nível de ocupação. A taxa de desemprego é baixa e a população economicamente ativa, quase toda empregada, possui um alto nível de renda agregada, elevando a demanda e o nível de inflação. Muita gente empregada significa muita gente com salário na mão, elevando o consumo e pressionando os preços.
Salários Mais Altos
Além disso, quando a taxa de desemprego é baixa, os salários tendem a subir, pois a mão de obra começa a se tornar mais escassa. Se eu quero abrir uma nova empresa e todos já estão empregados, onde irei conseguir funcionários? Precisarei oferecer salários maiores para “roubar” funcionários dos concorrentes. Salários mais altos potencializam o aumento na demanda de curto prazo, pressionando ainda mais a inflação para cima.
Desemprego
Por outro lado, quando a taxa de desemprego é alta, a renda das pessoas cai. Os salários são baixos porque há uma enorme quantidade de trabalhadores desocupados e não é necessário pagar prêmios para atrair funcionários. A renda da população é baixa, o que derruba o consumo de curto prazo. Com um mesmo nível de oferta atendendo a uma demanda menor, os preços passam a cair, derrubando a inflação.
Estados Unidos
O mecanismo da curva de Phillips está atualmente sendo visto em funcionamento nos Estados Unidos. Não só o país recuperou todos os empregos perdidos na pandemia, como o nível atual de desemprego é um dos menores desde o início da década de 1970. Além disso, os salários tiveram ganhos expressivos desde a pandemia. Por outro lado, a inflação tem subido com força e atualmente é a maior em quatro décadas no país.
Expansão
No dado divulgado na semana passada, revelou-se que a economia norte-americana registrou a criação de novos 528 mil empregos no mês de julho, após outras expansões robustas observadas nos meses de maio e junho. No mercado de trabalho americano, a desaceleração do PIB não se fez sentir ainda. Por outro lado, enquanto o nível de emprego estiver tão aquecido por lá, continuará adicionando combustível para a inflação.
No Brasil
No Brasil, a taxa de desemprego já recuou para baixo dos níveis pré-Covid, mas continua elevada. O desemprego chegou a 14,9% e atualmente está em 11,1% segundo dados do IBGE. No entanto, a inflação começou a subir com força antes mesmo da taxa de desemprego começar a cair. Isso aconteceu porque o Brasil estava mais exposto aos choques de oferta que aconteceram com a pandemia.
Conflito
Obter baixas taxas de desemprego e baixos níveis de inflação é o sonho de qualquer governante, mas esses dois objetivos são conflitantes e raramente alcançados ao mesmo tempo. Por outro lado, altas taxas de desemprego combinadas com inflação alta é um verdadeiro pesadelo, também raro de acontecer, mas que infelizmente tem se tornado realidade nos últimos 10 anos.