Taxa de câmbio (Divulgação)
O leitor Luciano enviou uma mensagem para esta coluna questionando sobre a taxa de câmbio e os fatores que a influenciam. Ele escreve: "Acompanho com regularidade sua coluna e recentemente você escreveu que a inflação afeta a taxa de câmbio, mas não é o contrário? Se o Dólar sobe, o custo de insumos e produtos importados aumenta e isso causa inflação. Nesse caso, é a taxa de câmbio que afeta a inflação. Por favor, esclareça". Respondo a seguir.
Aumento
O fenômeno apontado pelo Luciano de fato acontece. Se uma moeda se desvaloriza em relação ao Dólar, o valor relativo dos importados aumenta e tende a afetar os preços e a inflação interna. Foi o que aconteceu na Argentina. Para tentar solucionar o drama fiscal do país, a moeda foi desvalorizada em mais de 50% da noite para o dia. A inflação no país, que já estava em 160% ao ano, avançou ainda mais, alcançando os 254% ao ano.
FRASE
"A economia está em todos os lugares e entender a economia pode lhe ajudar a tomar melhores decisões e levar uma vida mais feliz".
Tyler Cowen, economista norte-americano
Preço
No entanto, existem outras dinâmicas a considerar. Na realidade, o efeito da taxa de câmbio sobre a inflação é pontual, enquanto o efeito contrário é de longo prazo e duradouro. É preciso entender que a taxa de câmbio nada mais é do que um preço. Trata-se do preço de compra da moeda estrangeira. Se a taxa de câmbio do Dólar estiver cotada a R$ 5,00 isso significa simplesmente que existe um preço de R$ 5,00 para se comprar 1 Dólar.
Regimes
Os países adotam diferentes regimes de taxa de câmbio. Em alguns países, como na Argentina, a taxa de câmbio é fixa e determinada pelo governo, e em outros ela é livre e flutua de acordo com as condições de mercado, como acontece no Brasil. Aqui, o Banco Central pode intervir eventualmente para evitar que a taxa de câmbio alcance níveis extremos, mas quando faz isso é por meio de instrumentos de mercado (ofertando moeda) e não por meio de decreto.
Equilíbrio
Portanto, a taxa de câmbio é um preço, livremente determinado pelo mercado. No longo prazo, este preço (ou seja, a taxa de câmbio) se estabelece no equilíbrio de valor entre as moedas. Imagine uma cesta de produtos e serviços básicos equivalentes para o consumidor no Brasil e nos Estados Unidos. Se essa cesta custar US$ 100 lá e R$ 500 aqui, isso significa que o preço de US$ 1,00 deve equivaler a R$ 5,00.
Oferta e Procura
Essa equivalência de valor representa a taxa de câmbio de equilíbrio. Exportações e entradas de capital estrangeiro aumentam a oferta de moeda estrangeira, enquanto as importações e saídas de capital aumentam a procura. Estes fluxos de oferta e procura por moeda estrangeira irão determinar a taxa efetiva de câmbio, que varia o tempo todo, flutuando em torno do valor de equilíbrio.
Equilíbrio 2
Obviamente, não existe uma autoridade monetária mundial que estabelece uma cesta de produtos e serviços, verifica o seu preço nos diferentes países e faz a equivalência de modo a determinar a taxa de câmbio. Isso é feito automaticamente pelo mercado. Existindo liberdade de movimentação de recursos, os fluxos de capitais irão se ajustar no equilíbrio de modo a fazer com que as taxas de câmbio representem a equivalência de valor entre as moedas.
Inflação
E aqui entra a inflação. Se um país experimenta uma inflação consistentemente mais alta do que o outro, o valor de sua moeda vai sendo corroído. A cesta de produtos e serviços fica mais cara. Por exemplo, pode passar a custar R$ 520 no Brasil enquanto nos Estados Unidos continue valendo US$ 100. Nesse caso, a nova taxa de câmbio de equilíbrio será de R$ 5,20 por US$ 1,00.
Inflação 2
A deterioração do poder de compra de uma moeda, causada pela inflação interna de sua economia, também afeta a taxa de câmbio, pois esta nada mais é do que um preço. Se a inflação em Reais faz subir o preço da gasolina, do feijão e da energia elétrica, da mesma forma também pode fazer o preço do Dólar subir.
