Dúvida do Leitor (Divulgação)
O advogado Pedro Benedito Maciel Neto, em sua coluna publicada no Correio do sábado passado, 4 de março, tornou pública uma dúvida, a qual tomo a liberdade de responder neste espaço. Em sua coluna, ele defende uma política de valorização dos salários, pois isso aumenta o consumo de alimentos, bens e serviços, o que levaria ao aumento da produção e geração de mais empregos. Ao final ele questiona: “O aumento real do salário mínimo gera inflação?”.
Equilíbrio
A resposta mais curta e acertada para essa pergunta é: potencialmente sim. O aumento da massa salarial acima da inflação tem um efeito direto sobre a demanda no sentido de aumentá-la, e isso pode produzir inflação caso a oferta não seja capaz de responder a esse aumento. Se a demanda cresce, mas a produção não acompanha esse crescimento, os preços tenderão a subir, o que nada mais é do que inflação.
FRASE
O investimento é o motor do crescimento econômico"
Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu
Gastos públicos
Vale lembrar que o aumento do salário mínimo também implica em um grande volume de gastos para o governo, devido ao pagamento de aposentadorias e pensões. Temos atualmente um contingente de 22,1 milhões de aposentados pelo INSS. O volume de gastos públicos adicionais pode tornar a situação fiscal insustentável, aumentando o risco da economia.
Premissa
Uma premissa que não é verdadeira é a de que o aumento da demanda leva consequentemente a aumento da produção. Isso não é necessariamente verdadeiro. Essa condição só vale quando a estrutura produtiva está com elevados níveis de ociosidade. Ou seja, quando já existe uma estrutura pronta para produzir, apenas esperando a demanda aumentar. Se não houver ociosidade, a produção só vai aumentar quando houver investimento.
Produção
Vamos supor que exista apenas um único produtor de alimentos no país e este esteja operando em sua capacidade máxima. Se as pessoas têm mais dinheiro, vão demandar mais alimentos, mas o produtor não consegue aumentar sua oferta, pois já está produzindo ao máximo de sua capacidade. Os preços irão subir. Para atender a demanda aumentada, terá que haver investimento para aumentar a produção (novos campos cultivados, rebanhos criados, equipamentos, etc.).
Investimento
A questão é que a demanda sozinha não vai provocar o aumento de produção. Obviamente, sem demanda não haverá investimento, mas é preciso que o investidor tenha confiança de que a demanda irá se manter. Um investimento não é feito apenas para atender a demanda de curto prazo. Às vezes são necessários cinco, dez anos ou até mais para a recuperação do valor investido e se a demanda não se mantiver nesse período, o investimento terá sido perdido.
Confiança
Se o produtor não tiver confiança de que o crescimento da demanda é um fator sustentável, que irá se manter ao longo do tempo, ele pode muito bem preferir não realizar o investimento e continuar simplesmente operando a plena capacidade, vendendo com preços mais altos, aproveitando a onda da demanda inflada e obtendo lucros maiores. Se não houver confiança na sustentabilidade da demanda, concorrentes também não entrarão no mercado.
Oferta
Portanto, a questão é como incentivar o investimento, que é a única fórmula para aumentar a produção e manter o crescimento de longo prazo sem inflação. Fatores que contribuem para o investimento são: um ambiente de negócios favorável, responsabilidade fiscal e nível adequado de poupança (pública e privada, para existirem os recursos para investir), estabilidade econômica e regulatória, entre outros.
Retornos passados
Em todos esses fatores o governo pode colaborar (ou pode atrapalhar). A valorização dos salários é algo importante, sem dúvidas, mas todo o resto tem que ser feito também. Aumentar os salários não é a solução única e mágica. Se fosse, por que não um salário mínimo de R$ 5 mil?
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