Dúvida do Leitor (Divulgação)
O leitor Roberto enviou uma pergunta para esta coluna, questionando sobre os efeitos econômicos que a ascensão de movimentos nacionalistas pode ter. O Roberto pergunta: "Qual o impacto que o crescimento dos movimentos nacionalistas tem na economia mundial e brasileira?". Respondo a seguir, mas antes apresento um pouco de contextualização histórica.
Nacionalismo
Os movimentos nacionalistas tiveram sua origem no período entre as duas guerras mundiais e seus exemplos mais claros são o fascismo na Itália e o nazismo na Alemanha. As más condições de vida impostas pela destruição causada na primeira guerra mundial e a crise de 1929 alimentaram toda espécie de insatisfação em partes da população. Essa insatisfação foi eficientemente capturada pelos movimentos nacionalistas que direcionavam o foco de todos os problemas para o exterior.
FRASE
"A única coisa que pode redimir a humanidade é a cooperação."
Bertrand Russell, filósofo britânico
Guerra Fria
Depois da segunda guerra mundial, o mundo viveu um período de polarização em que Estados Unidos e URSS competiam por zonas de influência, e o palco dessa competição era o resto do mundo. O mundo era dividido em dois lados. As zonas de influência eram mantidas com afinco e, no período da guerra fria, diversos movimentos nacionalistas/separatistas ganharam força, principalmente na Europa.
Globalização
Com o final da guerra fria e a queda da cortina de ferro, o mundo passou a viver um período de integração nunca antes visto. Ainda existiam conflitos pontuais, mas o que se viu foram a crescente institucionalização das relações diplomáticas, a intensificação da cooperação e do comércio internacional e o surgimento da globalização.
Nacionalismo 2
Atualmente, estamos presenciando em todo o mundo um crescimento acelerado dos movimentos nacionalistas, que novamente estão capturando um sentimento de insatisfação de parte da população e direcionando-o para um inimigo exterior qualquer. Trump, com seu slogan "America First" ("Primeiro os Estados Unidos"), é um símbolo desse movimento. "Vamos construir o muro" era outro slogan de sua campanha.
Menor Integração
Mas Trump não foi um fato isolado. O mesmo está acontecendo em várias partes do mundo. As consequências econômicas de um mundo se movendo em direção ao nacionalismo são um menor nível de integração econômica, a intensificação de disputas e guerras comerciais entre alguns países (como Estados Unidos e China), e o enfraquecimento dos acordos de cooperação internacional.
Produção
Com a globalização, houve a pulverização mundial das cadeias produtivas que passaram a ser globais, com etapas da produção acontecendo em países diferentes. Com isso, conseguiu-se reduzir o custo geral da produção. Agora, em um cenário internacional menos integrado e mais sujeito a sanções comerciais, esse processo deve sofrer uma reversão. O fornecimento condicional de produtos e insumos pode ser usado como forma de pressão, como a Rússia tem feito contra a Europa.
Brasil
O Brasil nunca conseguiu tirar grande proveito da globalização. Acabamos nos reservando ao papel de produtores de commodities básicas, de baixo valor agregado, e também nunca estivemos inseridos em um acordo comercial de grandes proporções. O Mercosul, por exemplo, nunca decolou de fato. Nesse aspecto, a onda de movimentos nacionalistas não representa grandes ameaças ao Brasil, pois temos pouco a perder.
Cooperação
Mas no contexto econômico mais geral, o mundo todo tende a perder. Com menos integração, menor cooperação tecnológica e científica entre os países, e maiores disputas comerciais, a tendência é que os preços subam e a eficiência diminua. Isso sem falar em alguns desafios importantes, como a transição para a energia renovável, o combate às mudanças climáticas e o combate à fome no mundo, que sem cooperação tornam-se simplesmente intransponíveis.
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