Dúvida do Leitor (Divulgação)
O leitor Ronalde enviou uma pergunta a esta coluna, questionando sobre a importância do encontro dos presidentes dos Bancos Centrais que aconteceu nesta semana na cidade norte-americana de Jackson Hole. O Ronalde pergunta: "Qual a importância da reunião de Jackson Hole para economia brasileira? Quais os seus impactos na moeda, juros e inflação?".
Jackson Hole
Para quem não sabe, o Federal Reserve, que é o banco central dos Estados Unidos, sedia anualmente um simpósio sobre política econômica e monetária, e recebe os presidentes dos Bancos Centrais de diversos países, inclusive o do Brasil, para discutirem política monetária. Este encontro acontece na pequena cidade de Jackson, Wyoming, que possui apenas 10 mil habitantes.
FRASE
“Não existe um caminho sem risco para a política monetária."
Jerome Powell, presidente do FED
Sinalização
Durante o Simpósio, são apresentados trabalhos e estudos, diferentes abordagens de condução de política econômica são discutidas, e o ponto alto é o discurso do presidente do Federal Reserve, que ocorre na sexta-feira (ou seja, foi ontem) e encerra o encontro, sinalizando qual será a tendência da condução da política monetária nos Estados Unidos.
Importância
A importância do encontro é fornecer essa sinalização. O presidente do FED pode indicar que será preciso adotar uma postura mais agressiva para garantir o controle da inflação, intensificando o aperto monetário. Isso significa juros mais altos. Ou o presidente do FED pode indicar que a situação já está voltando ao controle, dando folgas para os aumentos de juros.
Efeito dos Juros
Juros mais altos diminuem a disponibilidade de dinheiro, fazendo a demanda cair e os preços baixarem. É a forma clássica de controle da inflação. Por outro lado, juros altos também diminuem o ritmo de crescimento da economia. A menor demanda desacelera a atividade no curto prazo e os juros altos diminuem o nível de investimento em novos projetos.
No Brasil
A condução da política monetária aqui no Brasil funciona da mesma forma. Além disso, o Brasil também sofre os efeitos da política monetária nos Estados Unidos. O mundo todo sofre. Com a globalização e a liberdade de movimentação dos fluxos de capitais, o mundo inteiro sente os efeitos das decisões tomadas nas grandes economias.
No Brasil 2
Juros altos nos Estados Unidos atraem mais investidores para a renda fixa de lá. Ao invés de investir em um país emergente, o investidor decide investir nos Estados Unidos. Isso favorece o Dólar frente ao Real e pode provocar desvalorização da moeda brasileira. Como consequência, pode dificultar o combate à inflação no Brasil, justamente pelo encarecimento de todos os equipamentos e insumos importados (petróleo, fertilizantes, etc.), adicionando custos à nossa produção.
No Brasil 3
Para compensar esses efeitos, pode ser necessário avançar no processo de aperto monetário aqui no Brasil, aumentando ainda mais os juros. Assim, mantém-se o diferencial de juros em relação à economia norte-americana, oferecendo aos investidores internacionais juros maiores, e compensando a maior percepção de risco ao nosso país.
Uma Reunião
É devido a esses efeitos indiretos e em cascata que a reunião de Jackson Hole tem importância. Mas deve-se sempre lembrar que se trata de um simpósio e que nenhuma decisão efetiva é tomada ali. Os presidentes dos bancos centrais se encontram, debatem e discursam. É relevante, mas não se pode superestimar a importância do evento. Nada mudará no curto prazo.
Discurso
A cobertura do evento vale pela sinalização que oferece, mas mesmo isso é relativo, pois todo o mundo já sabe o que o presidente do FED dirá. Estou escrevendo essa coluna na sexta-feira, antes do discurso, e tenho certeza de que Jerome Powell dirá que a economia americana é sólida, que o FED está comprometido com o controle da inflação e que a desaceleração econômica será suave.
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