"Os reajustes são realizados anualmente, sempre no aniversário dos contratos de aluguel" (Divulgação)
O leitor Guilherme enviou uma questão para esclarecimento: "Em sua coluna você comentou que a indexação é ruim porque alimenta a inflação. Mas a indexação não serve justamente para proteger da inflação? A indexação reajusta os valores dos contratos (energia, água, aluguel, escola, etc.) para compensar os custos mais altos. Mas se os salários forem reajustados, a população não fica protegida também? Não é melhor indexar tudo?". Respondo.
Indexação
A indexação de fato é um instrumento para reajustar de maneira periódica e automática o valor de alguns contratos, compensando a inflação ocorrida no período. Por exemplo, os contratos de aluguel são tradicionalmente reajustados pelo IGP-M, o índice geral de preços ao mercado, que incorpora variações de preços no atacado, no setor de construção e também nos preços ao consumidor. Os reajustes são realizados anualmente, sempre no aniversário dos contratos de aluguel.
FRASE
“O caráter inercial da inflação se deve também à indexação da economia."
Bresser Pereira, economista brasileiro
Reajuste
Por exemplo, um contrato de aluguel que tenha sido feito há um ano no valor de R$ 2.000,00/mês deverá ter seu valor reajustado agora. Se o contrato estiver indexado pelo IGP-M, que teve variação de 10,08% nos últimos 12 meses, o novo valor do contrato passará a ser de R$ 2.201,60/mês. Esse aumento serve para proteger o dono do imóvel da perda do poder de compra da moeda, causada pela inflação.
Reajuste 2
O mesmo princípio, com algumas diferenças nos índices utilizados e na frequência dos reajustes, é aplicado a diversos outros contratos, com no caso da eletricidade, água, telefonia celular, mensalidades escolares, planos de saúde e etc. Os valores desses contratos são reajustados tendo como referência os diversos índices de inflação. No caso da eletricidade, por exemplo, as geradoras têm sua energia reajustada pelo IPCA.
Autoalimentação
O problema é que os índices de inflação também são influenciados pelos preços da habitação, dos gastos com saúde e telecomunicações. A eletricidade entra no cálculo do IPCA, então quando há um reajuste nas tarifas de eletricidade, esse aumento entra na conta do IPCA, jogando o índice um pouco para cima. No momento seguinte, as tarifas são reajustadas para compensar o aumento no IPCA e o processo segue se autoalimentando na chamada inflação inercial.
Renda
Quanto mais produtos e serviços forem indexados, mais forte é esse efeito inercial de autoalimentação, produzindo uma inflação que se auto sustenta. Mas se, chegando ao âmago da questão do Guilherme, toda a renda da população estivesse indexada, todos estariam protegidos? Em partes sim. Acabaríamos chegando em um momento em que um pãozinho custaria R$ 1 mil, mas em tese a renda também estaria aumentando proporcionalmente.
Defasagem
O problema é que existem problemas práticos para que isso aconteça. Primeiro podem acontecer defasagens e você sofrer com os aumentos nos preços dos contratos antes de receber o reajuste em seu salário, passando até um ano inteiro defasado. E quando o seu reajuste finalmente vem, ele já chega defasado de novo, pois os contratos logo são novamente reajustados.
Cobertura
Outro problema, bem mais grave, é que nem toda a população estaria coberta e protegida por esse mecanismo de indexação. A renda da população vem de fontes diferentes. Existem os salários pagos pelos entes estatais e as aposentadorias, mas também existem os salários na iniciativa privada, além dos profissionais autônomos e empreendedores. Uma grande parcela da população não possui uma renda que pode ser automaticamente reajustada.
Proteção
A economia brasileira é fortemente indexada e isso é ruim porque coloca em movimento mecanismos que acabam alimentando a inflação, mas inevitavelmente deixam de lado uma parcela da população, que acaba ficando desprotegida e acaba tendo sua renda corroída. Mande você também sua questão ou sugestão de tema para o e-mail [email protected] ou [email protected].