O nosso jornal publica na edição de hoje um panorama completo a respeito da queda dos preços dos combustíveis nas bombas (Marcello Casal Jr/ Agência Brasil)
O leitor Rafael enviou uma pergunta em relação aos preços dos combustíveis: "Estéfano, agora em julho o preço do petróleo voltou a cair. Não era para a Petrobras baixar os preços ou a tal paridade só serve na hora de subir os preços? E o monopólio da Petrobras já foi quebrado, não foi? Cadê a concorrência?".
Preço do Petróleo
Realmente, o preço do petróleo vem caindo nos últimos dez dias. Quando o Rafael me enviou sua mensagem, o barril do petróleo já tinha recuado para a faixa dos US$ 103, uma queda de quase 6,5% desde meados de junho, quando a Petrobras realizou sua última elevação de preços. E no momento em que escrevo esta coluna, o barril do petróleo já atingiu a marca dos US$ 96 (queda de 12% desde o último reajuste).
FRASE
"Ninguém pode especular o que acontecerá com os preços do petróleo e do gás, porque eles são definidos na economia global."
Ken Salazar, diplomata norte-americano
Crescimento Menor
A recente queda do preço do petróleo ocorre em decorrência dos últimos dados de inflação nos Estados Unidos, que vieram acima do esperado. Com isso, aumentam as chances de um aperto monetário mais decisivo por parte do banco central norte-americano, provocando temores de recessão e queda nas projeções de crescimento, com consequente redução da demanda esperada.
Paridade
É claro que não é viável que os preços dos combustíveis no Brasil acompanhem as oscilações do mercado no dia a dia. Especialmente em um momento de forte volatilidade como o atual. No entanto, obviamente a paridade deve valer tanto para cima como para baixo e, se dependesse apenas do preço do petróleo no curto prazo, haveria espaço para uma redução de preços.
Importação
O preço do petróleo influencia, mas o dado final a ser analisado são os preços internacionais dos combustíveis. Atualmente, o Brasil consome mais gasolina e óleo diesel do que produz internamente. A diferença precisa ser compensada com a importação de combustíveis, e daí vem a necessidade da política de paridade de preços. Se os preços internos estiverem mais baixos que os preços internacionais, isso inviabilizaria a importação.
Defasagem
Consultando o último relatório de preços da ABICOM (Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis), com a recente queda do petróleo, o preço da gasolina no mercado interno já está R$ 0,20/litro mais caro do que os preços equivalentes no mercado internacional. No caso do óleo diesel, os preços internos ainda estão R$ 0,05/litro mais baratos do que os preços externos.
Defasagem 2
Com base nesses dados, haveria justificativa para uma pequena redução nos preços da gasolina, mas ainda não para o óleo diesel. Quando a Petrobras anunciou o último reajuste, a defasagem de preços (ou seja, a diferença entre os preços no mercado externo e os preços internos) era de aproximadamente R$ 1,00/litro para a gasolina e de R$ 1,50/litro para o óleo diesel.
Defasagem 3
Portanto, pode ser que não aconteça nenhuma redução dos preços na refinaria. Com os preços atuais, não existe praticamente defasagem. Além disso, não há garantia de que os preços internacionais continuem nesse patamar. A volatilidade está muito alta. Nos últimos três meses o barril do petróleo passou de US$ 112 para os atuais US$ 97. Mas dentro desse período, atingiu valores tão altos como US$ 123 e tão baixos quanto US$ 94/barril.
ICMS
Além disso, existe a questão do ICMS. Os governadores baixaram as alíquotas de ICMS sobre os combustíveis (em São Paulo, a alíquota passou de 25% para 18%). Isso reduziu a pressão sobre o consumidor final. E mesmo com a redução, o valor arrecadado continuou interessante, pois o preço base está alto. Se houver redução do preço na refinaria, o valor arrecadado com o ICMS se reduzirá duplamente, e os Estados podem se ressentir da perda de arrecadação.
A questão da concorrência será abordada em uma próxima coluna. Mande você também sua questão ou sugestão de tema para o e-mail [email protected] ou [email protected].