A taxa cambial tem tido uma volatilidade muito grande desde a pandemia, com o valor do Dólar sofrendo grandes flutuações (Reuters/ Marcos Brindicci)
O leitor Fernando enviou uma pergunta bastante simples e direta: "Estéfano, o Dólar subiu demais na pandemia, caiu no começo do ano e agora voltou a subir. Afinal de contas, o Dólar está caro ou barato? Você acha que o Dólar vai subir mais ou deve voltar a cair?". Apesar da pergunta ser simples e direta, encontrar uma resposta não é nada simples.
Pandemia
De fato, a taxa cambial tem tido uma volatilidade muito grande desde a pandemia, com o valor do Dólar sofrendo grandes flutuações. Em meados de janeiro de 2020, o Dólar estava cotado a R$ 4,16. Com a eclosão da pandemia, a nossa moeda sofreu um choque e o Dólar saltou para a cotação de R$ 5,85 em apenas 4 meses (valorização de 40% frente ao Real).
FRASE
"O futuro influencia o presente tanto quanto o passado."
Friedrich Nietzsche, filósofo alemão
Câmbio Recuando
A taxa de câmbio começou este ano ainda bastante pressionada, com o Dólar valendo R$ 5,63. Mas com a continuação do processo de alta dos juros internos e melhoria do desempenho da economia, o Real se fortaleceu e o Dólar recuou, fechando o primeiro trimestre a R$ 4,66 (queda de 17% em relação ao começo do ano).
Câmbio Avançando
De lá para cá, o sentimento com a economia mundial voltou a se degradar, com aumento da aversão ao risco devido à inflação persistente, elevação dos juros nas economias centrais e o temor de recessão nos grandes centros. O Dólar passou dos R$ 4,66 do final de março para os atuais R$ 5,34 (nova valorização de 14,5% frente ao Real).
Valor Justo
E a grande questão - que é do Fernando, mas também de quase todos os investidores e agentes econômicos - é: qual o valor justo do Dólar? A nossa moeda hoje está subvalorizada frente ao Dólar e o Real tende a recuperar valor ou é o contrário? Não há uma resposta simples e objetiva, mas podemos encontrar algumas pistas nos fluxos que determinam o valor da moeda.
Equilíbrio
A taxa de câmbio é, antes de mais nada, um preço. No caso, trata-se do preço de aquisição de moeda estrangeira (Dólares) a partir de moeda local (Reais). Sendo um preço, a taxa de câmbio depende do equilíbrio entre a oferta e a demanda. Se existe grande oferta de Dólares em relação à demanda, a taxa de câmbio cai. Com pouca oferta de Dólares, a taxa de câmbio sobe.
Oferta
O que determina a oferta, em termos cambiais, são os fluxos de entrada de dólares no país. Assim, investimentos estrangeiros no Brasil aumentam a entrada de dólares. A exportação de commodities também faz aumentar a entrada de dólares. Por outro lado, importações aumentam a saída de dólares.
Investimentos
Do lado dos investimentos financeiros, a aversão ao risco e o aumento dos juros nos Estados Unidos têm provocado uma corrida de investidores buscando a segurança dos títulos de renda fixa em Dólares. Isso representa fuga de capitais. Os juros altos também inibem os investimentos no setor produtivo, pois a renda fixa tem sua rentabilidade aumentada. Esses fatores limitam a oferta de dólares e não favorecem o valor do Real.
Termos de Troca
Por outro lado, olhando a relação entre exportações e importações, o Real parece estar bastante desvalorizado. Atualmente, o valor do Real tem uma defasagem de 30% em relação aos termos de troca, que é o nome dado à relação entre o valor total das exportações e o valor total das importações de um país. Nos últimos 10 anos, a defasagem média foi de 18%. Assim, devido às entradas de dólares pelas exportações, o Real poderia se valorizar.
Expectativas
Para complicar ainda mais, os valores não dependem apenas da situação atual, mas também das expectativas em relação ao futuro. Se prevalecer o temor de recessão, o Real deve se desvalorizar. Se o sentimento positivo prevalecer, a balança comercial pode ajudar a fortalecer o Real. Eu pessoalmente, acredito mais na segunda opção, mas o curto prazo deve continuar a ter muita turbulência.
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