Leitor pergunta sobre a questão do petróleo, seus custos e relação com o etanol combustível ( Cedoc/RAC)
O professor Júlio César, leitor desta coluna, me enviou mensagem solicitando uma discussão sobre a questão do petróleo, seus custos e relação com o etanol combustível. Além disso, o Júlio César questiona sobre a atuação da Petrobras que "foi privatizada na surdina" e está aumentando os preços dos combustíveis. Ele pergunta se existe o risco de acontecer o mesmo com a Eletrobras e a conta de energia elétrica ir parar nas alturas.
Choque do Petróleo
A produção de etanol combustível no Brasil data de 1975, quando foi criado o Proálcool, por conta do primeiro choque do petróleo. Em 1973, os países exportadores de petróleo, organizados na OPEP, decidiram aumentar bruscamente os preços do barril de petróleo. No período de apenas um ano, o preço do barril do petróleo aumentou em quatro vezes e o mundo todo atravessou uma grave crise energética e iniciou buscas por fontes alternativas.
FRASE
"O que não é bom para a colmeia, não pode ser bom para as abelhas."
Marco Aurélio, imperador romano
Proálcool
O Proálcool foi um programa bem sucedido e o Brasil tornou-se líder mundial na produção de etanol e o país com a maior frota de veículos movidos a biocombustíveis. Isso diminuiu a dependência de combustíveis fósseis e tornou nossa economia mais sustentável. Mas, com o passar do tempo, a produção de etanol perdeu seu impulso. Algumas dificuldades foram enfrentadas, inclusive uma crise de abastecimento de etanol que abalou a confiança dos consumidores.
Competição
Com a tecnologia flex, hoje essa insegurança não existe mais. O etanol e a gasolina se tornaram produtos substitutos imediatos, ali na hora do abastecimento. Durante alguns anos em que o preço da gasolina esteve baixo - por conta de políticas adotadas para conter a inflação - o etanol perdeu competitividade. O resultado foi menos investimentos realizados no setor sucroalcooleiro, e o Brasil deixou de ser líder mundial na produção de etanol e referência nesta tecnologia.
Petrobras
A Petrobras, de fato, não é uma empresa pública. É uma sociedade de economia mista, com capital público e privado, e cujo controle é exercido pela União. Do capital da empresa, 19% está na mão de investidores brasileiros e 44,5% pertence a investidores estrangeiros. A União e seus órgãos detêm 36,5% do capital total, embora tenha a maioria das ações ordinárias e por isso forme o grupo de controle da empresa.
Falta de Competição
Até por conta da composição de seu capital, a Petrobras age hoje como uma empresa privada, defendendo o interesse de seus acionistas. Isso não é algo ruim. O grande problema está na falta de competição, pois embora não seja mais um monopólio legal, a Petrobras ainda detém um monopólio de fato. Existem algumas refinarias privadas no país (são nove), mas estas representam pouco em termos de produção.
Barreiras
O monopólio de fato existe por conta das barreiras de entrada. São necessários grandes investimentos para a construção de novas estruturas de refino. Além disso, novos empreendimentos não terão operação fácil, pois precisarão concorrer com uma empresa do porte da Petrobras. Isso inibe a entrada de novos participantes e o mercado acaba ficando na mão de uma empresa só. A Petrobras tem obtido grandes lucros, mas feito poucos investimentos em produção.
Eletrobras
No caso da Eletrobras, a situação é diferente pois o setor elétrico tem bem mais concorrência do que o setor de combustíveis. Eu entendo que os preços da energia provavelmente vão subir também, pois serão necessários mais investimentos em expansão e as novas usinas tendem a ser mais caras do que as antigas, pois os melhores aproveitamentos energéticos já foram utilizados. Mas preços altos atraem novos participantes, aumentando a oferta e trazendo os preços de volta ao equilíbrio. O que não pode é faltar investimento!
Novas Dúvidas
Se você também deseja ver algum assunto sendo discutido nessa coluna, mande sua questão ou sugestão para o e-mail [email protected] ou [email protected].
