xeque-mate da economia

Dúvida do Leitor

Estéfano Barioni
17/06/2022 às 19:15.
Atualizado em 18/06/2022 às 09:01

O etanol teve um grande aumento, subindo 25,3% nos últimos 12 meses (Divulgação)

Nesta semana, o leitor Horácio me encaminhou uma pergunta a respeito dos preços dos combustíveis e, especificamente, do etanol. Horácio pergunta: "Se os preços da gasolina subiram tanto por causa do preço do petróleo, por que o etanol subiu também? Os produtores estão aumentando as margens de lucro para se aproveitar da situação?".

Combustíveis

A consternação do leitor frente aos preços do etanol é compreensível. Os combustíveis têm sido os grandes vilões da inflação. Somente nos últimos 12 meses, a gasolina teve aumento de 28,7% e o óleo diesel subiu 52,3%. A grande explicação é o preço do petróleo, que aumentou 65,6% nesse mesmo período. Mas o etanol, que aparentemente não tem nada a ver com isso, também teve um grande aumento, subindo 25,3% nos últimos 12 meses.

FRASE

"A economia é, o tempo todo, uma escolha entre alternativas."
Paul Samuelson, economista norte-americano

Explicações

Existem alguns fatores que explicam esse aumento, justificando ao menos parcialmente a sua magnitude. Lembro que não sou porta-voz da indústria do etanol (e nem da gasolina) e, portanto, o que eu posso oferecer a seguir é apenas a minha análise dos fenômenos econômicos que envolvem a dinâmica dos preços dos combustíveis no Brasil. 

Custos de Produção

O primeiro ponto a observar é que existiram aumentos nos custos de produção do etanol. Esse combustível é feito a partir da cana-de-açúcar e toda a lavoura da cana, sua colheita e transporte até a usina é feita por tratores e caminhões movidos a óleo diesel. O óleo diesel aumentou muito, impactando os custos de produção do setor sucroalcooleiro. Obviamente esse custo está sendo repassado ao consumidor.

Flexibilidade

Além disso, as usinas produzem tanto o etanol hidratado (que é usado nos carros flex), o etanol anidro (que é misturado com a gasolina) e o açúcar. As usinas não possuem flexibilidade total para produzir somente um ou outro produto, mas conseguem destinar um pouco mais de cana-de-açúcar para aumentar a produção de etanol ou de açúcar, conforme é mais vantajoso para a usina. Essa flexibilidade é de aproximadamente 60%/40%.

Competição Interna

O açúcar também aumentou no mercado internacional, com preços subindo aproximadamente 16,7% nos últimos 12 meses. Portanto, o etanol teria que subir mais ou menos isso para que as usinas tivessem incentivos para manter uma produção equilibrada entre etanol e açúcar. Trata-se de uma espécie de competição interna dentro da usina. A produção de etanol compete, dentro da flexibilidade possível, com a produção de açúcar. 

Competição Externa

Outro ponto é a competição externa. Muitos países tem adotado misturas de etanol na gasolina, tanto para ter combustíveis mais "verdes" e atingir metas de redução de emissões, como também para reduzir sua dependência do petróleo. Essa demanda externa de etanol só tende a aumentar, ainda mais com o barril do petróleo a US$ 120,00. 

Demanda Externa

O Brasil exporta aproximadamente 2 milhões de litros de etanol por ano (em 2020 foram 2,7 milhões de litros). Pela maior demanda mundial por etanol, os preços internacionais têm aumentado e estão nos maiores níveis dos últimos 10 anos. Quanto mais atrativa é a exportação, menor é a oferta interna e os preços na bomba sobem para equilibrar a situação 

Equilíbrio

E por último, mas não menos importante, há o preço da gasolina. Se a gasolina sobe quase 30% e o etanol fica estável, ele se torna mais atrativo para abastecer os carros flex. O problema é que todos os donos de carros flex vão ter a mesma percepção ao mesmo tempo e todos eles vão preferir o etanol. A demanda interna por etanol dispara e os preços começam a subir (pressionados pois há muita demanda para a mesma oferta). Isso acontece até os preços alcançarem um novo equilíbrio com a gasolina. 

Novas Dúvidas

Se você também deseja ver algum assunto sendo discutido nessa coluna, mande sua questão ou sugestão para o e-mail estefano.barioni@gmail.com ou xeque.mate.economia@gmail.com.
 

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