O Banco Central utiliza seus instrumentos de política monetária para fazer com que a inflação fique perto de um valor considerado ideal (Marcello Casal Jr./Agência Brasil)
Nesta semana, a leitora Mariana me enviou mensagem questionando sobre o sistema de metas de inflação do BC. Mais especificamente ela pergunta: "Você já mencionou algumas vezes que o Banco Central tem uma meta de inflação entre 2% e 5%, mas por que existe esse valor mínimo? Se a inflação fosse zero, não seria melhor para a economia?". Respondo abaixo.
Inflação
Antes de mais nada, deve-se dizer que a questão é muito pertinente. Todos nós estamos sentindo na pele e no bolso o drama da inflação. É, sem dúvida, o principal desafio econômico a ser enfrentado este ano. Assim, é lógico pensar por que o objetivo principal não seria simplesmente ter uma inflação igual a 0%, já que ela causa tantos males e problemas.
FRASE
"A deflação não é boa, e a inflação é mais fácil de curar do que a deflação."
Robert Kiyosaki, empresário e escritor norte-americano
Meta de Inflação
O Brasil começou a adotar o regime de metas de inflação em 1999, estabelecendo as metas como diretriz para a condução da política monetária. A partir do estabelecimento do que seria a taxa de inflação ideal para um determinado ano, o Banco Central utiliza seus instrumentos de política monetária (como a taxa de juros) para fazer com que a inflação fique perto desse valor considerado ideal. Nem muito acima e nem abaixo.
Meta de Inflação 2
Atualmente o centro da meta de inflação é 3,5%. Ou seja, esse é o valor da inflação considerado ideal para a economia brasileira hoje. Como é muito difícil fazer com que a inflação siga exatamente esse valor, existe uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, qualquer valor que fique entre 2% e 5% ao ano é considerado uma boa taxa de inflação.
Inflação Mínima
A existência de um limite inferior desejável para a inflação vem do fato de que um pouco de inflação contribui para o crescimento econômico. Sem dúvida, a estabilidade dos preços traz muitas vantagens para a economia e para a qualidade de vida das pessoas, mas um pouco de inflação é melhor do que ter preços sempre estáticos, simplesmente por se afastar um pouco mais de um processo de deflação.
Deflação
Deflação é a inflação negativa, situação onde os preços dos produtos e serviços caem ao longo do tempo. Pode-se pensar que isso seria bom, que seria a festa do consumidor. Mas na verdade essa situação é muito ruim para a economia, pois acaba inibindo a atividade econômica e o crescimento. Explico o mecanismo desse fenômeno através de um exemplo.
Com Inflação
Imagine que você queira comprar um computador de R$ 5.000 e a inflação atual seja de 5% (nosso teto da meta). Assim, ao final de um ano, se o preço estiver subindo junto com a inflação, esse computador estará custando R$ 5.250. Seus rendimentos não cobrem essa diferença então você aproveita e compra o computador hoje. A loja de computadores registra uma venda, e a fábrica recebe um novo pedido, movimentando a economia.
Com Deflação
Agora imagine a mesma situação, mas em um cenário de deflação, a uma taxa de -2% ao ano. Se hoje o computador custa R$ 5.000, no final de um ano ele deverá estar custando R$ 4.900. Então você decide esperar e não faz a compra hoje. A loja não faz a venda e a fábrica de computadores não recebe novos pedidos.
Estagnação
Na deflação, há poucos incentivos para as empresas realizarem investimentos. Como a expectativa é de que os preços caiam, as margens de lucro também vão caindo e isso torna os projetos pouco atrativos. Com o tempo, a economia perde o dinamismo e a competitividade, ficando completamente estagnada.
Margem de Segurança
Manter um nível mínimo desejado de inflação é como ter uma margem de segurança contra a deflação, mantendo um certo nível de incentivos para o crescimento da economia e para a realização de investimentos. Se você também deseja ver algum assunto sendo discutido nessa coluna, mande também sua questão ou sugestão para o e-mail [email protected] ou [email protected].