No começo dessa semana, o dólar voltou a subir, pressionado pelo ambiente externo negativo e com aumento da aversão ao risco (REUTERS/Mike Segar)
No começo dessa semana, o dólar voltou a subir, pressionado pelo ambiente externo negativo e com aumento da aversão ao risco. A inflação continua elevada no Brasil e em todo o mundo, o que aumenta as chances de que os bancos centrais precisem avançar mais do que o esperado em políticas monetárias contracionistas, através de aumentos significativos das taxas de juros.
Juros
Juros altos reduzem a quantidade de dinheiro em circulação, diminuindo a liquidez da economia. Como o crédito fica mais caro, as pessoas acabam tomando menos empréstimos e financiamentos. Além disso, existe maior incentivo a poupar, pois o dinheiro no banco passa a render mais. Assim, a disponibilidade de dinheiro imediato diminui, reduzindo o consumo. Com a queda no consumo, os preços caem para manter o equilíbrio com a oferta.
FRASE
"Nunca teste a profundidade da água com os dois pés."
Warren Buffett, megainvestidor norte-americano
Aperto Monetário
Por esta razão, o aumento das taxas de juros é o instrumento principal de combate contra a inflação. No entanto, esse procedimento tem um efeito colateral negativo. Diminuindo a liquidez e o consumo, o aumento da taxa de juros também desacelera o crescimento da economia. Essa desaceleração é tão maior quanto mais intenso for a alta dos juros (que é chamado de aperto monetário).
Queda de Ações
Nessa perspectiva de que as principais economias do mundo deverão realizar apertos monetários mais intensos para conseguir controlar a inflação, diminuem-se as projeções de crescimento. As empresas passam a valer menos pois o ritmo de crescimento será menor (crescimento nas vendas inclusive). Consequentemente, os fluxos de caixa gerados pelas empresas serão menores e o valor das ações caem.
Risco
Ao mesmo tempo, o investimento em títulos de renda fixa passa a ser mais atrativo, pois sua rentabilidade cresce com as taxas de juros. Isso é especialmente verdadeiro no caso dos títulos da dívida norte-americana, considerados os mais seguros do mundo. Na verdade, os títulos da dívida norte-americana são o padrão para ativos livres de risco.
Risco 2
Com esses ativos remunerando mais e sem oferecer risco, há um maior interesse por parte dos investidores que buscam segurança. Os demais ativos, como ações ou qualquer outro ativo em moeda diferente do dólar, precisam oferecer maiores rendimentos para atrair investidores, compensando-os pelo risco. É o chamado prêmio de risco. E isso acaba provocando uma desvalorização desses ativos.
Real
É isso que tem acontecido nos últimos três meses, período em que a cotação do Dólar passou de R$ 4,69 para a faixa atual dos R$ 5,38, em uma desvalorização de quase 15% do Real frente ao Dólar. Devido ao aumento dos prêmios de risco, os ativos brasileiros e a nossa moeda se desvalorizam frente ao Dólar.
Euro
Outros ativos do mundo também têm sofrido o mesmo fenômeno. Nesses mesmos últimos 3 meses, a cotação do Dólar na Europa passou de 0,92 para 0,999 Euros, quase atingindo a paridade, como já abordamos aqui nesta coluna. Esta é uma desvalorização de 8,5% do Euro frente ao Dólar e a explicação é a mesma. Aumento da percepção de risco e direcionamento para ativos mais seguros.
Política Fiscal
No entanto, temos um problema adicional no Brasil que é a situação fiscal. O descontrole das contas do governo, embaladas pelo período eleitoral, aumentam o risco. Sem rigor fiscal e orçamentário, o governo vai se endividar cada vez mais, pagando um alto custo pelo serviço da dívida (que aumenta com juros maiores) ou serão retirados recursos de outras áreas prioritárias.
Política Fiscal 2
Em qualquer das opções, o governo perde a capacidade de investimento e passa a ter menos recursos e flexibilidade para adotar as políticas necessárias para estimular o crescimento. Como o governo gasta muito, aumentam as dúvidas de que faltem recursos para fazer o que é necessário. Por isso os prêmios de risco acabam sendo ainda mais elevados e os ativos em Real perdem valor.