Petrobras (Fernando Frazão/ Agência Brasil)
A recente decisão da Petrobras de não distribuir dividendos extraordinários referentes ao último trimestre de 2023 continua suscitando uma série de questionamentos críticos acerca da gestão da empresa e da ingerência governamental em suas operações. Anunciada na quinta-feira passada, a decisão marcou uma mudança no relacionamento da Petrobras com seus acionistas e causou uma queda, ainda não recuperada, de 10% no valor de suas ações.
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Implicações
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A decisão do não pagamento dos dividendos extraordinários, além de ter provocado o tombo nas ações da estatal e seu impacto negativo no valor de mercado da companhia, também levanta dúvidas profundas sobre a gestão e a estratégia corporativa da Petrobras, afetando diretamente a confiança dos investidores e até produzindo implicações mais amplas para a saúde das contas públicas brasileiras.
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A oportunidade de fazer o errado é encontrada cem vezes por dia, e a de fazer o certo uma vez por ano
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Voltaire, filósofo francês
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Confiança
A Petrobras, desde o ano passado, vinha se destacando como uma das maiores pagadoras de dividendos do país e de todo o setor de óleo e gás mundial, e a ruptura dessa estratégia foi interpretada pelo mercado como um sinal de ingerência do governo na gestão da companhia. A percepção de interferência estatal afasta investidores, dificultando a atração de investimentos privados, essenciais para o desenvolvimento econômico do país.
Confiança 2
O governo defende a utilização dos recursos para investimentos em projetos estratégicos, incluindo energias renováveis. Embora o reinvestimento dos lucros em projetos que promovam o crescimento sustentável e a longo prazo da empresa seja uma prática saudável, a falta de clareza e a percepção de motivações políticas por trás das decisões prejudicam a confiança na gestão dos recursos e na governança corporativa da Petrobras.
Fiscal 1
A postura é controversa especialmente considerando-se o contexto da situação fiscal delicada em que o país se encontra, lutando para zerar o déficit fiscal. O pagamento dos dividendos seria muito bem vindo para ajudar a cumprir a meta fiscal, uma vez que o governo é o maior acionista individual da Petrobras e receberia boa parte dos dividendos pagos pela empresa. Por mais que se tente, é muito difícil encontrar uma justificativa lógica para a decisão.
Fiscal 2
Os dividendos representam uma fonte interessante de resultado primário, tendo a vantagem de poderem ser utilizados de maneira flexível, ao contrário de outras fontes de orçamento e arrecadação que possuem destinação específica. Portanto, a suspensão dos pagamentos não apenas prejudica os acionistas, mas também restringe recursos importantes que poderiam contribuir para a melhoria das contas públicas.
Memória
O cenário atual remete a episódios anteriores de gestão questionável, onde investimentos mal planejados e apropriações indevidas levaram a perdas significativas para a empresa e seus acionistas. A memória desses eventos reforça a desconfiança do mercado e dos investidores na capacidade de gestão da estatal e em sua autonomia frente às pressões políticas.
Estatais
A gestão dos recursos públicos e o papel das estatais no desenvolvimento econômico requerem uma abordagem equilibrada, que concilie os objetivos de longo prazo da companhia com a transparência e a responsabilidade fiscal. A independência das estatais, juntamente com uma governança corporativa sólida e livre de influências políticas diretas, é fundamental para assegurar a confiança dos investidores e contribuir para a estabilidade econômica do país.
Gestão
A decisão de não pagar os dividendos extraordinários da Petrobras é mais um episódio do frágil equilíbrio entre uma gestão corporativa independente e as prioridades políticas do governo. É imperativo que as decisões sejam pautadas pela transparência, pela eficiência e pelo interesse público, contribuindo assim para aumentar a confiança dos investidores e melhorar a saúde fiscal do país.