(Fernando Frazão/Agência Brasil)
Na semana passada, foram divulgados dados econômicos dos Estados Unidos apontando pequenas mudanças no mercado de trabalho e na inflação. Estas pequenas mudanças podem ter reflexos importantes na política monetária do Federal Reserve (FED), o banco central dos Estados Unidos, e também na economia brasileira. Os indicadores mostraram um leve esfriamento do mercado de trabalho e queda da inflação nos Estados Unidos.
Mercado de Trabalho
Em junho, a taxa de desemprego nos EUA subiu para 4,1%, avançando em relação aos meses anteriores. Trata-se da maior taxa de desemprego verificada no país desde novembro de 2021. Além disso, também foi verificada desaceleração no crescimento dos salários. Os salários médios de junho aumentaram 3,9% em relação ao mesmo mês do ano anterior, marcando o menor crescimento em três anos.
a frase
“Assuntos que dependem de muitos raramente são bem sucedidos”
Francesco Guicciardini, historiador italiano
Inflação
De outro lado, a inflação nos EUA mostrou sinais de desaceleração. O índice de preços de despesas de consumo pessoal, o indicador utilizado pelo FED para calibrar sua política monetária, recuou para 2,6% em maio. Ainda é um nível de inflação acima da meta de 2%, mas que registra queda em relação ao histórico recente. Em maio do ano passado, o índice estava em 4%.
Juros
A redução na inflação, juntamente com um mercado de trabalho menos aquecido, pode levar o FED a considerar a realização de cortes nas taxas de juros mais cedo do que o previsto. O FED ajusta as taxas de juros para controlar a inflação e manter o emprego em níveis estáveis, assim como acontece no Brasil. Atualmente, a taxa de juros está entre 5,25% e 5,50% ao ano. O FED trabalha com um intervalo-meta e não um valor fixo, como faz o Banco Central.
Cenário
Antes da divulgação dos dados, havia a expectativa de apenas um corte de juros este ano, realizado somente em dezembro. Para avaliar a possibilidade de um novo cenário, investidores e analistas estarão particularmente atentos ao depoimento que Jerome Powell, o presidente de FED, dará ao Congresso dos Estados Unidos entre hoje e amanhã. Powell já indicou que qualquer decisão futura será baseada em dados econômicos concretos, com foco na inflação e no emprego.
Impactos
Para a economia brasileira, as decisões de política monetária do FED têm um impacto significativo. A elevação das taxas de juros nos EUA tende a fortalecer o Dólar, podendo produzir uma fuga de capitais de mercados emergentes, como o Brasil, para investimentos mais seguros nos EUA. Esse fenômeno resulta em desvalorização do Real e pressão inflacionária interna, complicando a condução da política monetária pelo Banco Central.
Impactos 2
O aumento dos custos de financiamento e a volatilidade cambial são desafios constantes para a economia brasileira. Empresas que dependem de insumos importados enfrentam custos mais elevados com a desvalorização do Real, enquanto a inflação importada corrói o poder de compra das famílias. Além disso, a capacidade do BC de reduzir suas próprias taxas de juros pode ser limitada pela necessidade de manter a atratividade de ativos em Real para os investidores internacionais.
Alívio
Portanto, qualquer alívio na política monetária dos EUA pode criar maior espaço de manobra para o BC reduzir suas taxas de juros sem comprometer a estabilidade macroeconômica. Se o FED decidir antecipar os cortes de juros, isto aliviará a pressão sobre a moeda brasileira, facilitando o alcance de um ambiente de menor inflação.
Conexões
Além disso, como o ambiente econômico global está interconectado de muitas maneiras, as decisões de política monetária de uma grande economia como a dos EUA reverberam através de mercados financeiros e comerciais em todo o mundo. Para o Brasil, um ajuste nas taxas de juros dos EUA pode influenciar desde os fluxos de investimento estrangeiro direto até as condições de financiamento para projetos de infraestrutura e a demanda pelas commodities que exportamos.