Crédito (Divulgação)
Com a taxa básica de juros elevada e mantida a 13,75% ao ano, o crédito para as empresas e as pessoas físicas torna-se mais caro e mais difícil de conseguir. É por conta desse efeito que se espera a redução da demanda e a consequente diminuição da pressão sobre os preços e redução dos níveis de inflação. Com uma demanda menor, a oferta fica menos pressionada e os preços caem. No entanto, outros efeitos acabam acontecendo no setor de crédito.
Saldo
Mesmo com a elevação da taxa Selic, que começou o ano passado aos 9,25% ao ano e atingiu o atual nível de 13,75% em agosto de 2022, o mercado de crédito registrou um forte crescimento no ano passado. Apenas no segundo semestre o mercado de crédito passou a perder o ímpeto, mas de qualquer forma, ao longo de 2022, o saldo de crédito no sistema financeiro nacional teve uma expansão de 14% em relação ao ano anterior.
FRASE
"Uma vez que em você se endivida, é muito difícil sair"
Charlie Munger, investidor norte-americano
Empresas
O saldo do crédito para as empresas foi o primeiro a perder o ímpeto, diminuindo o ritmo de expansão logo a partir de 2021, pois as empresas são mais sensíveis à elevação da taxa de juros, podendo suspender a execução de projetos de investimento. Mesmo assim, o saldo do crédito para empresas permaneceu no espectro positivo, fechando o ano passado com expansão de pouco menos de 10% em relação ao saldo de crédito do ano anterior.
Alternativas
Outro motivo que explica o porquê as empresas são as primeiras a responder a aumentos na taxa de juros, reduzindo sua demanda por crédito no sistema bancário, é o fato de que as empresas possuem outras alternativas para o financiamento de suas operações, como a emissão de ações (aumento do capital próprio) ou emissão de debêntures e notas promissórias. No entanto, essas operações também sofrem a influência dos juros altos e também cresceram menos.
Crédito livre
Em janeiro deste ano, a concessão de crédito livre, que é o tipo de crédito oferecido pelos bancos privados, com recursos e taxas livremente estabelecidos, atingiu o volume de R$ 250 bilhões para pessoas físicas e de pouco menos de R$ 210 bilhões para empresas. No caso das pessoas físicas, o volume total concedido via crédito livre é o maior da série histórica. Há três anos, o endividamento total das famílias nesse tipo de crédito somava pouco mais de R$ 150 bilhões.
Alto custo
Além do volume do endividamento das famílias ter crescido quase 67% em apenas três anos, observa-se uma piora no perfil deste endividamento, com crescimento das modalidades com maior custo de crédito e diminuição do uso das modalidades consideradas de baixo custo, como o empréstimo consignado As modalidades de alto custo são consideradas o uso do rotativo do cartão de crédito, o cheque especial, e o crédito pessoal não consignado.
Alto custo 2
Com a queda da renda provocada pela pandemia e o aumento da inflação, as pessoas acabaram precisando aumentar os gastos no cartão de crédito, posteriormente tendo dificuldades em fazer os pagamentos integrais das faturas. Nesse movimento, outras modalidades de crédito emergenciais também passaram a ter a contratação aumentada, como o cheque especial.
Taxas
Na média, as taxas de juros do crédito livre chegaram a pouco mais de 20% ao ano para empresas e já ultrapassam 45% ao ano para as pessoas físicas. Isso sem considerar as taxas do cartão rotativo. Essas ultrapassam os 400% ao ano. O nível atual das taxas médias para pessoas físicas, sem considerar o rotativo, estão no mesmo patamar das taxas verificadas entre 2016 e 2018.
Inadimplência
Com o comprometimento da renda, aumento do custo do crédito e do nível de endividamento, é natural que a inadimplência também esteja aumentando. De fato, está. Esse crescimento ganhou impulso a partir do segundo semestre do ano passado, com aumento da inadimplência de pequenas e médias empresas, atualmente chegando a 2% nesse segmento, e de pessoas físicas, onde a inadimplência já alcança 7%.