Discussão sobre alguns conceitos (Divulgação)
Em mais um domingo, eu me proponho a apresentar neste espaço uma breve discussão sobre alguns conceitos que têm sido mal utilizados no debate econômico e político atual. Depois de apresentar os conceitos e distinções entre direita e esquerda e entre liberalismo e intervencionismo, dessa vez eu abordarei o conceito de conservadorismo. Novamente, procurarei ser didático e imparcial em minhas considerações.
Equívoco
É muito comum que as pessoas estabeleçam uma oposição entre conservadorismo e liberalismo, mas essa é uma concepção equivocada. Acredito que exista essa confusão pois muitas pessoas acabam pensando em costumes para contrapor liberais e conservadores, mas não é disso que estamos falando aqui. Estamos falando aqui em economia e na forma como a sociedade se organiza.
FRASE
“Melhorar é mudar; ser perfeito é mudar frequentemente".
Winston Churchill, ex-Primeiro Ministro do Reino Unido
Liberal x Intervencionista
Como já foi exposto nessa coluna, o contrário de liberal não é ser conservador, mas sim intervencionista. Os liberais prezam a liberdade de cada indivíduo (pessoas e empresas) em fazer suas escolhas e acreditam que essa liberdade contribui para o bem comum. Cada um buscando o que é bom para si e produzindo o melhor resultado para todos. Os intervencionistas defendem que o estado deve interferir nas decisões individuais para garantir que o bem comum seja alcançado.
Conservador x Progressista
É entre conservadores e progressistas a distinção que pode ser feita em termos econômicos e na maneira como a sociedade se organiza. Essa distinção se refere especialmente à forma como os dois lados encaram o processo de mudança na sociedade. A mudança é certa e inexorável, mas uma atitude mais conservadora ou mais progressista pode retardar ou acelerar o processo, tanto para o bem como para o mal.
Conservador
De um modo geral, o conservador defende que qualquer mudança realizada deve ser feita seguindo o rito e os procedimentos atualmente estabelecidos. O processo de implementação de mudanças deve, portanto, observar os regulamentos vigentes, sem estabelecer uma ruptura com o status quo. É claro que essa abordagem tende a conservar o estado atual das coisas (daí o termo "conservador"), desacelerando o processo de mudança.
Progressista
Já o progressista defende que o processo de mudança exige uma certa ruptura com o passado e, portanto, alguns procedimentos atuais (inevitavelmente herdados do passado) podem e devem ser rompidos. Para o progressista, implementar uma mudança que implique em um benefício para a sociedade justifica a ruptura com algumas regras e procedimentos.
Justiça
Por exemplo, dentro do ordenamento vigente, a justiça deve se limitar a agir quando provocada. Assim, do ponto de vista conservador, um juiz só deveria se manifestar sobre algo quando existir um processo legal. É da regra do jogo. Já um progressista aceitaria que um juiz agisse antecipadamente, mesmo sem um processo, ao perceber que suas ações podem evitar algum dano à sociedade ou ajudar a garantir um bem maior.
Plano Real
O Plano Real foi estabelecido em 1994 através de medidas provisórias e decretos emitidos pelo Poder Executivo que estabeleciam as regras para a conversão de valores e emissão da nova moeda. Foi uma ruptura. O caminho conservador, muito mais lento, seria propor as mudanças ao Poder Legislativo, que faria sua apreciação. Para se ter uma ideia, somente em 2001 (quase sete anos depois), o Congresso Nacional conseguiu aprovar a medida provisória que estabelecia o Plano Real.
Mudanças
É melhor ser conservador ou progressista? Não há resposta definitiva. Mas o fato é que as mudanças são inevitáveis, para o bem e para o mal. As relações de trabalho, a forma como interagimos com o ambiente e nos organizamos em sociedade estão sempre sob constantes pressões de mudança. Pode-se adotar uma postura mais conservadora ou mais progressista, mas o que não se pode é tentar eliminar o processo de mudança, pois isso é promover o atraso do país.