Confiabilidade

A transparência no mercado de capitais é fundamental para o bom funcionamento da economia. Essa transparência depende da disponibilidade de informações fidedignas e confiáveis sobre o desempenho econômico-financeiro e a situação patrimonial das empresas. Assim como os consumidores precisam conhecer as características dos produtos que compram, os investidores têm o direito de entender a real situação das empresas antes de realizar qualquer investimento.

 "Quando em dúvida, diga a verdade."

Mark Twain, escritor norte-americano

 Auditorias

Nesse contexto, empresas independentes de auditoria são contratadas justamente para verificar e atestar a veracidade das informações fornecidas pelas empresas em suas demonstrações financeiras, funcionando comoumselo de qualidade e uma garantia de confiabilidade das informações prestadas. Entretanto, a falha das auditorias em fornecer alertas sobre situações de risco nas empresas auditadas tem se tornado uma preocupação crescente.

Detecção

Se as informações fornecidas não são corretas, seja por omissão ou por dolo, o papel das auditorias perde completamente o seu valor. Um dos maiores escândalos financeiros da história foi o da Enron, uma gigante do setor de energia dos Estados Unidos, que fraudou sistematicamente seus balanços e resultados. Em 2002, a Arthur Andersen, uma das maiores empresas de auditoria do mundo na época, foi considerada cúmplice por não ter detectado essas fraudes, o que levou à sua ruína.

Falhas

Um estudo recente da Universidade de Sheffield revelou essa falha não é isolada. O estudo revelou que três em cada quatro relatórios de auditoria no Reino Unido não forneceram alertas de risco antes do colapso de grandes empresas ocorridos entre 2010 e 2022. Mesmo as quatro grandes empresas de auditoria mundiais - Ernst & Young, PwC, Deloitte e KPMG - não tiveram performances muito superiores, emitindo alertas em apenas um terço dos casos relevantes.

Americanas

No Brasil, o caso das Lojas Americanas também trouxe à tona a questão da eficácia das auditorias. A empresa confessou ter inflado seus resultados em R$ 25 bilhões, uma fraude que passou despercebida pelas auditorias independentes. A KPMG e a PwC, responsáveis pela auditoria das Americanas em diferentes períodos, apresentaram suas defesas, alegando também serem vítimas da fraude que lesou credores e investidores.

Vínculo

Esses dados revelam um problema estrutural na cultura das auditorias, onde as falhas na detecção de riscos resultam em penalidades pouco significativas para os auditores. Isso quando existe qualquer tipo de penalidade. Sem um vínculo maior de responsabilidade entre empresas auditadas e auditores, é difícil vislumbrar uma melhoria no sistema.

Confiança

A necessidade de uma reforma na cultura das auditorias é evidente. Os auditores precisam ser mais rigorosos e independentes em suas análises. A confiança dos investidores depende disso. A falta de transparência e a ineficácia das auditorias formam um cenário que prejudica os investidores e vai além, afetando negativamente a confiança no mercado de capitais e a economia como um todo.

Qualidade

Assim como ninguém compraria um produto sem garantia de qualidade, os investidores não deveriam ser levados a investir em empresas sem a certeza de que suas demonstrações financeiras foram rigorosamente verificadas. A reforma da cultura da auditoria deve ser uma prioridade para garantir que os interesses dos acionistas, das empresas e da economia sejam devidamente protegidos.

Transparência

O caso das Americanas e os estudos no Reino Unido são exemplos de que as auditorias precisam evoluir. A responsabilidade não é apenas das empresas auditadas, mas também dos auditores, que devem garantir que fraudes e distorções sejam identificadas e reportadas. Somente assim poderemos garantir um mercado de capitais saudável e transparente.